A Cultura como Diretriz Mãe para o Projeto de Nação
Sempre quando falarmos
em Desenvolvimento, nos moldes dos tempos atuais, recomenda-se que levemos em
conta os processos da globalização e das trocas culturais que eles são capazes
de estimular. Neste fluxo misto, vamos perceber inúmeras vezes a valorização de
representações culturais dominantes em detrimento das locais. Além da relação global/local, estarão na
centralidade desse debate um amplo leque de atores : sindicatos, associações, universidades,
coletividades territoriais, mídia, indústrias, consumidores e cidadãos. Foi a partir da constatação da saturação do
modelo de desenvolvimento que exaure os recursos, causa grande número de catástrofes naturais, gera crises financeiras
, multiplica os bolsões de pobreza e
aumenta a exclusão social; que chegamos ao conceito do Desenvolvimento
Sustentável.
A compreensão mais
nítida e prática desses processos somente será possível através de uma
observação regionalizada, que inclui a cultura como vetor de um desenvolvimento
adaptado ao contexto dos diferentes
territórios. A organização social, associações, comunidades, governos, etc. é
fundamental à concepção desse projeto de desenvolvimento. E a inclusão da
cultura nesse modelo é o que chamo de Diretriz Mãe, baseada no respeito aos
valores, ao meio ambiente e à
diversidade cultural. Trata-se de um
arranjo que permita às comunidades o protagonismo na relação com o processo da globalização
e com sua própria identidade de forma que, nos diversos territórios, vamos
encontrar modelos diferenciados de interdependências sociais e econômicas. Mais
que uma diretriz, podemos entender esse arranjo social como Projeto de Nação.
Um projeto que se contrapõe ao desenvolvimento baseado somente no consumo e no comércio de mercadorias.
Logo a cultura deve
ser referência para se empreender o conceito do desenvolvimento sustentável. Parece
simples mas não é, pois, estamos lidando no mesmo processo com economia e
identidades locais. A cultura, que inclui os saberes sobre o meio ambiente, é
fundamental ao enfrentamento aos novos
desafios que se apresentam nesse veio complexo. Somente o simbolismo da Cultura
é capaz de dar um sentindo mais completo à vida coletiva do ponto de vista do
ser humano. Por isso, na visão
contemporânea, ela se revela como vetor
estratégico do desenvolvimento. A cultura deve estar antes, durante e depois do
consumo.
Há alguns anos a ONU vem incluindo em seus documentos e
publicações o acesso pleno à cultura como indicador da qualidade de vida. No Brasil,
avançamos bastante, desde 2003 até aqui. O Congresso Nacional aprovou em 2013 a
emenda à Constituição Federal que inclui a cultura no rol dos direitos sociais.
No entanto, temos um longo caminho a trilhar para que o esclarecimento do papel
estratégico da cultura para o desenvolvimento ganhe mais repercussão em nossas
vidas e nas ações dos governantes. A marca do século passado, sem dúvida, foi a
irracionalidade da imposição de um estilo de vida baseado no consumo nos moldes
ocidentais.
É preciso que se reveja a história para que se entenda como
foi construída a hegemonia de polos irradiadores da cultura europeia e
americana. Vamos encontrar formatos que
forçaram a pasteurização, a partir de um eixo dominante, que por sua vez,
atacou implacavelmente as diferenças e as peculiaridades regionais e
territoriais. Para os atores do setor cultural não há duvida de que o Projeto
2014-2018 seja construído a partir de políticas públicas sensíveis aos valores
e representações simbólicas de cada região, num diálogo direto com a relação
local/global e que considerem a cultura como vetor estratégico de
desenvolvimento.
Este texto é resultado da minha recente relação com
lideranças quilombolas, caiçaras, indígenas e gestores públicos das cidades de
Valença, Vassouras, Angra dos Reis e Paraty, com os quais divido a inspiração e
a autoria. ( Álvaro Maciel–março/2014)
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