Este texto
abaixo publicado é de autoria de Maria Cláudia da EBC e tem como base o Relatório 2015 da CEPAL, publicado no dia 22 deste mês. É uma
ótima síntese do que representa o Brasil para a América Latina e Caribe, em
termos de exemplo e de esperança de um mundo mais igualitário. Suas informações nos
confirmam a centralidade das questões de gênero e racial em relação aos estudos
da desigualdade social.
Além disso,
nos trás também, a firme postura política de Alicia Bárcena, secretária
executiva da Cepal, que usou das prerrogativas do seu cargo para enviar uma
carta à presidente Dilma Roussef, na
qual manifesta sua preocupação com a
instabilidade política por que passa o Brasil e reconhece os nossos avanços sociais e políticos alcançados na última
década.
Boa
leitura!
Pobreza cai no Brasil e aumenta na
América Latina
O relatório Panorama Social da América Latina 2015,
divulgado hoje (22) pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
(Cepal), registrou uma redução importante nas taxas de pobreza no Brasil.
Segundo Laís Abramo, diretora da Divisão de Desenvolvimento Social da
instituição, mais de 2 milhões e 750 mil brasileiros saíram das linhas de
pobreza e extrema pobreza em 2014.
“Essa diminuição foi mais acentuada entre os
indigentes, e isso mostra, justamente, a eficácia e a importância dos programas
de combate à extrema pobreza que existem atualmente no Brasil. Sabemos que há
uma crise importante, com diminuição do crescimento econômico, com recessão e
aumento do desemprego. É muito provável que haja impactos negativos sobre os
níveis de pobreza e indigência. Mas vai depender da eficiência da rede de
proteção social que existe no país, dos programas de transferência de renda e
de instrumentos como o seguro-desemprego”, afirmou Laís.
Alicia
Bárcena, secretária-executiva da Cepal, afirmou que enviou hoje carta aberta à
presidente Dilma Roussef, em que manifesta sua preocupação com ameaças à
estabilidade democrática e reconhece os avanços sociais e políticos alcançados
pelo Brasil na última década. “Nos violenta que hoje, sem julgamento ou
evidência, usando vazamentos e uma ofensiva midiática, que tem por convicção
tentar demolir sua imagem e legado, esforços são multiplicados por minar a
autoridade presidencial e encerrar o mandato conferido aos cidadãos nas urnas”,
afirmou, em nota.
Em toda a
América Latina, entre 2014 e 2015, o número de pessoas em situação de pobreza
cresceu de 168 milhões para 175 milhões, o que representa 29,2% das pessoas. Já
o número de pessoas em situação de indigência, ou extrema pobreza, passou de 70
para 75 milhões (12,4%).
Fotos: sede da CEPAL em Santiago
do Chile / Fonte: Site da CEPAL
De acordo com
o relatório, o aumento é consequência de resultados diferentes entre os países,
onde alguns tiveram aumento da pobreza e outros, a maioria, registraram
diminuição. Entre 2010 e 2014, por exemplo, houve significativo crescimento da
pobreza no México.
O documento
ressalta que, nos próximos 15 anos, a maioria dos países da América Latina
continuará no chamado bônus demográfico, onde a população em idade de trabalhar
é maior que a de aposentados. Bárcena afirmou que este é um momento fundamental
para o desenvolvimento de políticas de proteção social e reforçou que será
necessária atenção especial à área de saúde e da previdência social, uma vez
que o impacto negativo tende a crescer.
Outro dado
alarmante é que, em 2013, uma em cada 3 mulheres não tinha renda própria nem
autonomia econômica. Segundo Bárcena, a exclusão social afeta muito mais as
mulheres do que os homens. De acordo com o documento, a renda dos homens
brancos é quatro vezes maior que a das mulheres indígenas e duas vezes maior
que a das negras, levando-se em consideração níveis educacionais iguais.
De acordo com
a Cepal, o trabalho é a chave mestra para reduzir a pobreza e as desigualdades.
No entanto, entre 2014 e 2015, a taxa de desemprego na América Latina aumentou
de 6% para 6,6%. O organismo recomenda que os esforços de promoção do trabalho
decente, formalização dos empregos e acesso aos mecanismos de proteção social
devem persistir.
“Os gastos sociais em educação, saúde e previdência
social deveriam ser independentes dos ciclos econômicos. Mas, em momentos como
o atual, de crise econômica, os países devem proteger os níveis de gastos
sociais. E, nos períodos de crescimento, ampliar o gasto e os investimentos,
para reforçar a construção da rede de proteção social”, afirmou Bárcena.