A Verdade é Dura
Em primeiro
lugar quero lembrar que muitas vezes nos referimos ao golpe de 1964 como “golpe
militar”. Isso é um erro. O golpe foi civil-militar. Ele só foi possível por conta da aliança dos
militares com alguns segmentos da burguesia e com grupos capitalistas,
nacionais e estrangeiros.
Já a resistência
ao golpe se deu através dos movimentos formados por trabalhadores urbanos e rurais, estudantes, soldados e militares de baixa patente,
políticos, artistas e intelectuais, que
tinham como principais bandeiras as seguintes orientações: anti-imperialismo, reformas
agrárias e urbana, nacionalização dos principais setores da indústria e autodeterminação
dos povos. O golpe de 1964 foi dirigido
principalmente contra o trabalhismo e as organizações de esquerda.
Quem consultar
o documento atual do balanço realizado
pela Comissão da Verdade verá que mais de milhares de pessoas foram atingidas
direta ou indiretamente em seus direitos e cerca 400 foram assassinadas . Mas
falta incluir neste balanço , com mais exatidão, as vítimas envolvidas nas violações cometidas contra os indígenas no
Araguaia.
As ações
repressivas do golpe foram financiadas pelo grande capital. A “repressão” era um sistema baseado em perseguição e tortura
seguidos de desaparecimento e morte, comandadas nas
maioria das vezes pelo Delegado Fleury.
O setor de
comunicação, nesta época, se aproveitou
da associação ilegal com o capital estrangeiro por meio do grupo Time-Life, do
qual obteve financiamento e assessoria gerencial e técnica, entre 1962-1971. Foi
então que Costa e Silva, em 1967, baixou um decreto proibindo a associação
financeira, gerencial e técnica no setor de telecomunicações com o capital
estrangeiro. Dessa forma, foi criado,
definitivamente, o monopólio Globo, pois, foi entendido que esta instrução não se aplicava à Rede
Globo e ao Grupo Time-Life.
Logo, os laços da ditadura se estenderam a outros
grupos de comunicação, o que favoreceu ao surgimento de uma concentração privada do espaço midiático
nacional. Tal situação contraria o inciso 5º do artigo 220 da constituição
brasileira de 1988, que determina que os meios de comunicação não podem ser,
direta ou indiretamente, objeto de monopólio.
Os desafios
atuais para a construção de um Estado Democrático de Direito são: romper com a cultura golpista, ainda viva
em nosso pais; realizar as reformas
política e tributária ; democratizar o
setor de comunicação; aumentar os investimentos das pastas de cultura e educação; e libertar as novas gerações das influências dessa cultura golpista,
que tem na mídia seu principal braço de convencimento. Devemos lembrar, ainda, que a hegemonia conservadora
no processo de redemocratização vinculou-se ao fortalecimento do império midiático e
ao monopólio das telecomunicações, representado pela Rede Globo.
Portanto, a
abertura e leitura dos arquivos da
ditadura devem prosseguir e a atuação das comissão da verdade não pode ser
interrompida. Temos que reinventar o
Brasil através da revelação da verdade e criar um novo paradigma de
autocrítica, liberto do circuito viciado daqueles que se beneficiaram da ditadura. Mesmo
que essa verdade seja dura. Ela deve
servir de guia para a construção de um futuro mais igualitário e digno.
(Álvaro Maciel )
Nenhum comentário:
Postar um comentário