quinta-feira, 31 de março de 2016

A Verdade é Dura


Em primeiro lugar quero lembrar que muitas vezes nos referimos ao golpe de 1964 como “golpe militar”. Isso é um erro. O golpe foi  civil-militar.  Ele só foi possível por conta da aliança dos militares com alguns segmentos da burguesia e com  grupos  capitalistas,  nacionais e estrangeiros.

Já a resistência ao golpe se deu através dos movimentos formados por   trabalhadores urbanos e rurais, estudantes,  soldados e militares de baixa patente, políticos, artistas e intelectuais,  que tinham como principais bandeiras as seguintes orientações: anti-imperialismo,   reformas agrárias e urbana, nacionalização dos principais setores da indústria e autodeterminação dos povos.  O golpe de 1964 foi dirigido principalmente contra o trabalhismo e as organizações de esquerda.
   
Quem consultar o documento atual do  balanço realizado pela Comissão da Verdade verá que mais de milhares de  pessoas  foram atingidas direta ou indiretamente em seus direitos e cerca 400 foram assassinadas . Mas falta incluir neste balanço , com mais exatidão, as vítimas envolvidas nas  violações cometidas contra os indígenas no Araguaia.

As ações repressivas do golpe  foram  financiadas  pelo grande capital. A “repressão”  era um sistema baseado em perseguição e tortura seguidos de   desaparecimento e morte, comandadas nas maioria das vezes pelo Delegado Fleury.

O setor de comunicação, nesta época,  se aproveitou da associação ilegal com o capital estrangeiro por meio do grupo Time-Life, do qual obteve financiamento e assessoria gerencial e técnica, entre 1962-1971. Foi então que Costa e Silva, em 1967, baixou um decreto proibindo a associação financeira, gerencial e técnica no setor de telecomunicações com o capital estrangeiro.  Dessa forma, foi criado, definitivamente,  o  monopólio Globo, pois, foi entendido  que esta instrução não se aplicava à Rede Globo e ao Grupo Time-Life.    

Logo, os  laços da ditadura se estenderam a outros grupos de comunicação, o que favoreceu ao surgimento de  uma concentração privada do espaço midiático nacional. Tal situação contraria o inciso 5º do artigo 220 da constituição brasileira de 1988, que determina que os meios de comunicação não podem ser, direta ou indiretamente, objeto de monopólio.

Os desafios atuais para a construção de um Estado Democrático de Direito  são:  romper com a cultura golpista, ainda viva em nosso pais;  realizar as reformas política e tributária ;  democratizar o setor de comunicação; aumentar os investimentos das pastas de cultura e educação; e libertar as novas gerações das influências dessa cultura golpista, que tem na mídia seu principal braço de convencimento. Devemos lembrar, ainda, que a hegemonia conservadora no processo de redemocratização vinculou-se ao fortalecimento do império midiático e ao monopólio das telecomunicações,  representado pela Rede Globo. 

Portanto, a abertura e leitura  dos arquivos da ditadura devem prosseguir e a atuação das comissão da verdade não pode ser interrompida. Temos que reinventar o  Brasil através da revelação da verdade e criar um novo paradigma de autocrítica, liberto do circuito viciado  daqueles que se beneficiaram da ditadura. Mesmo que essa verdade seja dura.  Ela deve servir de guia para a construção de um futuro mais igualitário e digno.


(Álvaro Maciel ) 

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