sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O X Não é a Questão – Gestão e Fomento


Sobre o texto do secretário, Álvaro Maciel, entendo que não haja inversão de sentido entre os dois termos ou antagonismo real na expressão fomento X gestão, mas ao contrário, uma intensa interligação conceitual e prática. O que é confuso sempre nesta discussão é o entendimento de qual é o papel do Estado na construção de políticas que consolidem marcos regulatórios para Gestão da Cultura no Brasil.

O que temos hoje no Brasil em termologia clássica é um ser híbrido entre um estado liberal e um estado provedor.  Com as tais “famosas” leis de incentivos por um lado, e por outro, a política de editais para execução orçamentária ou o atual Vale Cultura, formam duas bases que consolidam possibilidades antagônicas, porém, não excludentes entre si.  A gestão do Ministério da Cultura de modo geral nestes últimos onze anos vem tentando balizar um critério para o uso destes instrumentos. Isto sim é uma prerrogativa da gestão. Por isso creio ser fundamental para iniciarmos esta discussão definirmos sobre qual modelo de gestão estaremos falando: afinal este será o parâmetro que delineará as formas de fomento e/ou financiamento para setor.  
   
O que não podemos mais conviver são com aberrações onde o fomento e/ou financiamento promovem verdadeiros bolsões de concentração de investimentos em detrimento de uma relação igualitária dos mesmos, de relações de uma dita “alta cultura” (as Artes) em detrimento de uma “baixa cultura” (popular e tradicional), da falta de uma política de prioridades separando o que são investimentos para construção de mercados consumidores e investimentos para proteção, preservação e incentivo a inovação de processos culturais na sociedade.

Por fim, cabe ressaltar a necessidade que uma gestão global tem que ter: a capacidade de atingir os mais variados extratos de interesses, devendo, porém, ter muito claro para si que dentro de uma sociedade de diferentes é necessário ter políticas diferenciadas e não tratar “diferentes” como “iguais”. Ah, quase esqueci definir: essa prioridade de diferenças é o que estrutura o modelo de gestão e a política, mas isto é para outro momento.

Lino Rocca

Diretor teatral, Produtor e Membro da SECULT PT/RJ. 


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