sábado, 21 de março de 2015

Viva o dia 21 de março!

Graças ao Movimento Negro e ao empenho  dos governos populares de Lula e Dilma de 2003 para cá o Brasil passou a investir mais em políticas de  combate a discriminação e promoção da igualdade racial. Logo, hoje  podemos  comemorar o Dia Internacional contra a Discriminação Racial!

Eu destaco como ponto principal a inclusão feita no setor da educação.  O novo perfil dos livros didáticos nas escolas e a ascensão de negros e negras no ensino superior fizeram a diferença.  A lei de cotas raciais deu certo e foi decisiva para  termos hoje muito mais negros  e negras nas universidades.


 



No campo trabalhista a Lei das Domésticas virou realidade e só falta passar pelo Senado para depois ser sancionada pela presidente Dilma Rousseff. Também avançamos  bastante com as recém aprovadas cotas para o serviço público.  Já as políticas públicas punitivas  para combater a discriminação e o racismo são necessárias e indispensáveis .

Vale  lembrar que é menos doído atuar pelo viés da cultura e da formação. É um outro tipo de luta. O Ministério da Cultura vem tentando consolidar uma política afirmativa através de seus editais. Pela Fundação Palmares já era comum, mas pela FUNARTE  a publicação de editais inclusivos é recente .  Infelizmente o Edital Bolsa Funarte de Fomento aos Artistas e Produtores Negros ainda causa certo desconforto para alguns setores da sociedade.  Mas seus resultados são excelentes e revelaram talentos que antes viviam no anonimato e à margem do mercado. Torço muito para que esse tipo de política ganhe mais força e espaço dentro das instituições culturais do país. É exatamente neste setor onde os negros e negras mostram a força de sua expressão artística e cultural.



O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravatura. Foi a partir da extinção  do tráfico de negros, em 1850, que a escravidão passou ser contestada pela sociedade com mais veemência, contudo,   somente   em 13 de maio de 1888 ela seria abolida.  Vamos conferir:

1850 - Aprovação da Lei Eusébio de Queirós, que previa a punição de traficantes de escravos. Fim da entrada de cativos no Brasil
1871 - É aprovada, no dia 28 de setembro, a Lei do Ventre Livre, que proibia a escravização dos negros nascidos em solo nacional. Esse foi o principal golpe sofrido pelo regime escravista até a Lei Áurea, pois, com a proibição do tráfico negreiro, seria natural que a população escrava do país desaparecesse após algumas décadas.
1880 - É fundada, em 07 de setembro, a “Sociedade Brasileira Contra a Escravidão”, instituição criada pelo político e diplomata Joaquim Nabuco que lutou contra o regime. Nessa época, periódicos como O Abolicionista, do próprio Nabuco, e Revista Ilustrada já circulavam, dando mostras da força das críticas ao modelo escravista.
1883 - Joaquim Nabuco publica O Abolicionismo, uma das mais importantes obras a favor do fim do regime escravista.
1887 - A Lei Saraiva-Cotegipe, mais conhecida como Lei dos Sexagenários, passou a determinar a libertação dos escravos com mais de 65 anos.
1888 - No dia 13 de maio, a princesa Isabel assina a Lei Áurea. O ato põe fim a um processo político há muito em curso e, sob vários aspectos, já inevitável.




Após a abolição as elites da América Latina, eram contra a aceitação social da população negra. Os que acreditavam no positivismo de Auguste Comte (filósofo francês) achavam que os africanos estavam muito longe de alcançar a modernidade e os abandonavam.

As elites latino americanas do século 19 se recusavam a aceitar o pluralismo cultural porque temiam dividir o poder com a população negra doméstica.  Além desse histórico trágico, o Brasil passou a  absorver milhares de  imigrantes  europeus. Uma grande parte deles tinha, por trás, responsáveis que pagavam seu transporte e moradia. De modo que, os negros foram sendo cada vez mais marginalizados, empobrecendo e sendo discriminados.


Por isso, no Brasil  por conta das recentes conquistas podemos e devemos comemorar sim o Dia Internacional contra a Discriminação Racial. A luta não pode parar e temos muitos desafios pela frente, mas as conquistas entre 2013 e 2015  não podem passar desapercebidas . Viva o dia 21 de março!  Parabéns ao Movimento Negro por sua incansável atuação.  (Álvaro Maciel).


         


SALINA

OS NEGROS GUERREIROS E AS MULHERES GUERREIRAS POR SI MESM@S

(por Geovane Barone)

Salina (a última vértebra), o novo espetáculo da Cia. Amok, é com certeza um dos melhores espetáculos desta temporada. Dirigido por Ana Teixeira e Sthephane Brodt, está em cartaz até 29 de março no Teatro SESC Copacabana. Rico em imagens, cores, sons, movimentos corporais aliado a força de excelentes atores e atrizes negr@s.Somos levados na arena do começo ao fim para um universo onde o esforço e a beleza são explorados ao extremo. Três horas de prazer sinestésico: a plateia é levada a um ritual, ficamos tão imersos que nem nos damos conta do tempo fora do palco.

     A personagem-título é obrigada a casar com um homem (que não queria) por determinação da família do noivo. Tudo em função da lei de casta e de títulos. Ela nega e diz querer casar com o irmão dele. Quer ter o direito de escolher e rompe com a tradição. Não sendo ouvida, jura ódio eterno ao marido. E passa a ser violentada pelo mesmo. Até nascer um filho que ela detesta tanto como o pai: Mamuyê Djimba. Ferido numa guerra sangrenta, o marido pede ajuda a Salina que nega. Ela é banida da cidade pela lei do reino e passa a viver no deserto. Sozinha  tem outro filho pelo ódio e prepara formas de se vingar, enquanto o seu amado guerreiro - irmão do seu ex-marido - Kano Djimba reina.
      No segundo ato, um momento de destaque é quando a esposa de Djimba, Aike encontra com Salina -  já velha e desprezada - e oferece um de seus filhos para ela cuidar como pedido de perdão pelo seu longo sofrimento. Momento que Aike faz o papel do espectador que tem compaixão pela protagonista. Momento catártico e dialético. O filho parece ser o símbolo do poder do perdão e do amor como caminho, mesmo quando estamos imersos no ódio.


      O elenco composto por  Luciana Lopes, Sergio Ricardo Loureiro, Tatiana Tibúrcio, André Lemos, Thiago Catarino, Ariane Hime, Graciana Valladares, Reinaldo Júnior, Sol Miranda, Robson Freire. Na  sonoplastia ao vivo o magestral músico e ator Fábio Soares, - onde os cânticos em yorubá e  o toque forte do atabaque desenham e dão mais expressividade a toda cena. Atuações fortes, corpos que falam, vozes que revelam emoções, coletividade à serviço de Dionísio e Salina. Vemos em cena a linguagem teatral em potencialidade. Um teatro sonhado por Artaud, Grotowski e Brecht. Um teatro onde o palco fala com toda a sua semiologia. Cada movimento, cada gesto, cada fala ganha uma tensão poética. Cada ação é metricamente modelada. O figurino do casal de diretores é desenhado com roupas de bastante brilho e cor.- bem ao estilo dos clãs luxuosos de negros guerreiros, ricos e poderosos e com a benção dos orixás. A luz de Renato Machado é precisa, básica e deixa visível as cores presentes no palco e nas atuações sem maneirismos. Um trabalho excelente da Cia Amok.

       A peça, escrita pelo autor francês Laurent Gaudé ,reconhecido por explorar em suas obras os limites morais do ser humano, é um convite a reflexão sobre o ódio e o amor, a vingança e o perdão. Além de tratar da submissão feminina e a luta pela emancipação da mulher numa sociedade fechada pela tradição e pela lei de castas. O espectador acompanha no círculo, nada roda, imers@ na celebração. Onde conflitos pessoais passam a ser conflitos públicos. Onde o teatro volta a ser a ágora grega e deixa de ser apenas extensão do quarto.


         Por isso, precisamos mais de espetáculos assim. É um grito, um desabafo de que o teatro é feito para comunidade e pela comunidade. Que a história da Salina é também a história de tantas mulheres escravizadas, violentadas que vemos nos jornais e de que é bom termos atores negros em papéis complexos e não subjugados. Como dizia a música "Branco se você soubesse o valor que o negro tem..."

sábado, 7 de março de 2015

                   O Teatro de Bonecos Popular do Nordeste  é Patrimônio Cultural do Brasil


O Teatro de Bonecos Popular do Nordeste não é apenas  um brinquedo, é o elemento central de uma manifestação popular que reúne  produção cultural e um misto de linguagens artísticas que vai do teatro às artes visuais, com  temáticas religiosa e profana.

Seu reconhecimento, ocorrido nesta quinta feira, 05/03, é fundamental à sustentabilidade da identidade e da memória popular do Nordeste. Interage diretamente com as comunidades e  mantém viva as figuras dos “Mestres” e dos “brincantes”.  Merecidamente, foi inscrito no Livro de Formas de Expressão do Patrimônio Cultural Brasileiro e agora é  Patrimônio Cultural do Brasil. Parabéns aos 22 Conselheiros que votaram a favor da aprovação,  ao relator Luiz Viana Queiroz e à ABTB -  Associação Brasileira de Teatro de Boneco que solicitou a inscrição.







                   


                                           


   

sexta-feira, 6 de março de 2015

 Sobre a Aprovação dos Mamulengos como Patrimônio Cultural do Brasil.

“O Teatro de Bonecos Popular do Nordeste foi aprovado, com unanimidade, nesta quinta-feira (5/3), como Patrimônio Cultural do Brasil e inscrito no Livro de Formas de Expressão do Patrimônio Cultural Brasileiro. A decisão foi anunciada na 78ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que ocorreu na Sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Brasília. O pedido de inclusão foi solicitado pela Associação Brasileira de Teatro de Bonecos (ABTB), o que afirma a tendência de uma apropriação da sociedade sobre suas manifestações. Os 22 conselheiros foram favoráveis ao parecer lido pelo relator conselheiro Luiz Viana Queiroz. Com a aprovação do registro, o Teatro de Bonecos passa a ter proteção institucional, ou seja, mais uma garantia de salvaguarda desse bem cultural que já se mantém vivo com a força de seus praticantes.”




Fonte: site do Ministério da Cultura - Assessoria de  Comunicação