Na segunda feira, 11/04,
participamos do ato contra o golpe, Lula
e Chico Contra o Golpe, na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. Mais uma vez, ficou evidente que o processo golpista instaurado no Brasil após
reeleição da presidente Dilma Rousseff, em outubro de 2014, traz no seu bojo uma
parcela muito expressiva de racismo e
intolerância.
O evento foi um grande "sucesso de público e de crítica". A Secult PT RJ estava
praticamente toda presente. Lá fora a multidão ocupava todo o pátio dos arcos da Lapa, enquanto na Fundição rolava a reflexão política. Quando Flávio Renegado falou e versou, sentimos grande
emoção. Não nos resta nenhuma dúvida de que alteração nas relações sociais, promovidas nos governos
Lula e Dilma, causam enorme
descontentamento na classe média burguesa. De 2003 até 2014 foi praticamente
extinta, e sem nenhum saudosismo, aquela relação de autoritarismo e afeto na
formação do Brasil, retratada por Gilberto Freyre, que durante algum tempo foi aceita no meio acadêmico, mas que aos poucos foi desconstruída. O sadismo dos “senhores brancos”
ainda reside no seio de uma grande parcela de nossa sociedade. Portanto, a questão racial é central quando falamos de
desigualdade social.
O que está em extinção, então, é aquele gozo marcante na vanglória de mandar ,
pois, já não há no meio pobre o antigo desejo de obedecer e, muito menos, a
acomodação de outrora. Não há mais a tal submissão inocente dos subalternos,
descrita por Freyre e tão contestada pelos movimentos sociais. Os sentimentos e
as emoções geradas na relação de classes , ou mesmo, dentro de um mesmo grupamento social foram
completamente alterados. Essa nova relação, mais igualitária de modos e
respostas, é uma resposta imediata à
inclusão econômica e social de milhares de pessoas , na sua maioria, negras e
negros. Aí reside a causa do ódio presente nas manifestações pró impeachment.
Logo, os componentes do autoritarismo, ainda impregnados na dita
“classe média alta”, não encontram mais o outro componente para a satisfação da
sua “vontade de mandar”. Para dar ordem agora os “patrões” devem assinar
a carteira de trabalho e pagar todos os direitos aos seus empregados. É muito
insano como a conquista tardia desses
direitos veio a disparar a revolta da classe média e se tornar uma ameaça à consolidação
da democracia no Brasil. Essas foram as a
viagens dentro das nossas cabeças ao ouvirmos os versos de Flávio Renegado.
Outro momento marcante da noite
com Lula e Chico Pela Democracia foi a fala da índia Sônia Guajajara, que nos explicou por que os indígenas estão revoltados com a
PEC 215. Sônia nos deu uma aula e demonstrou passo a passo como agronegócio tem
avançado para cima das terras dos índios.
A PEC é um retrocesso para a árdua história de
conquista dos nossos direitos , quando altera
o procedimento de demarcação de terras, pois, deixará as populações indígenas ainda
mais vulneráveis. EC 215 tira do
Executivo e passa para o Congresso a decisão final sobre a demarcação de terras
indígenas. E como é do nosso conhecimento , a bancada ruralista, quer impedir e inviabilizar todo e qualquer
novo reconhecimento de território indígena no país, por motivos óbvios.
Fiquei muito emocionado, de vê-la ali no palanque político, em defesa da
Democracia. Vi pessoas chorando. Ela conseguiu nos passar a noção de que se essa
a lei passar porá em risco não só a terra, mas a cultura e a vida do povo
indígena. De certo, se aprovada, iniciará um ciclo de guerra nesses territórios , dando abertura a mais um
período de genocídio dos povos originários do Brasil. Sônia Guajajara não
representou somente as mulheres indígenas, ela representou todas brasileiras e
brasileiros que lutam por um Estado Democrático de Direito.
Neste pequeno resumo, queremos citar, ainda , a bravura da nossa grande Beth Carvalho, que além de trazer sua voz e musicalidade ao ato veio com a novidade do momento: o samba Não Vai Ter Golpe da autoria de Cládio Guima.