sexta-feira, 15 de abril de 2016

A Questão Racial e da Terra Contra o Golpe



Na segunda feira, 11/04, participamos  do ato contra o golpe, Lula e Chico Contra o Golpe, na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro.  Mais uma vez, ficou evidente  que o processo golpista instaurado no Brasil após reeleição da presidente Dilma Rousseff, em outubro de 2014, traz no seu bojo uma parcela muito expressiva  de racismo e intolerância.







O evento foi um grande "sucesso de público e de crítica". A Secult PT RJ estava praticamente toda presente. Lá fora a multidão ocupava todo o pátio dos arcos da Lapa, enquanto na Fundição rolava  a reflexão política. Quando Flávio Renegado falou e versou, sentimos grande emoção. Não nos resta nenhuma  dúvida   de que  alteração nas relações sociais, promovidas  nos governos  Lula e Dilma,  causam enorme descontentamento na classe média burguesa. De 2003 até 2014 foi praticamente extinta, e sem nenhum saudosismo, aquela relação de autoritarismo e afeto  na formação do Brasil, retratada por Gilberto Freyre, que durante algum tempo foi aceita no meio acadêmico, mas que aos poucos foi desconstruída. O sadismo dos “senhores brancos” ainda reside no seio de uma grande parcela de nossa sociedade.  Portanto, a questão racial é central quando falamos de desigualdade social.




O que está em extinção, então,  é aquele gozo marcante na vanglória de mandar , pois,  já não há no meio pobre o  antigo desejo de obedecer e, muito menos, a acomodação de outrora. Não há mais a tal submissão inocente dos subalternos, descrita por Freyre e tão contestada pelos movimentos sociais. Os sentimentos e as emoções geradas na relação de classes , ou mesmo,  dentro de um mesmo grupamento social foram completamente alterados. Essa nova relação, mais igualitária de modos e respostas,  é uma resposta imediata à inclusão econômica e social de milhares de pessoas , na sua maioria, negras e negros. Aí reside a causa do ódio presente nas manifestações pró impeachment.

Logo, os  componentes  do autoritarismo, ainda impregnados na dita “classe média alta”, não encontram mais o outro componente para a satisfação da sua “vontade de mandar”. Para dar ordem agora os “patrões” devem   assinar a carteira de trabalho e pagar todos os direitos aos seus empregados. É muito insano como a conquista tardia  desses direitos veio a disparar a revolta da classe média e se tornar uma ameaça à consolidação da democracia no Brasil.  Essas foram as  a viagens dentro das nossas cabeças  ao ouvirmos os versos de Flávio Renegado.  

Outro momento marcante da noite com Lula e Chico Pela Democracia foi a fala da índia Sônia Guajajara, que nos explicou  por que os indígenas estão revoltados com a PEC 215. Sônia nos deu uma aula e demonstrou passo a passo como agronegócio tem avançado para cima das terras dos índios. 


A PEC é  um retrocesso para a árdua história de conquista dos nossos direitos , quando  altera o procedimento de demarcação de terras,  pois, deixará as populações indígenas ainda mais vulneráveis.  EC 215 tira do Executivo e passa para o Congresso a decisão final sobre a demarcação de terras indígenas. E como é do nosso conhecimento ,  a bancada ruralista,  quer impedir e inviabilizar todo e qualquer novo reconhecimento de território indígena no país, por motivos óbvios.

Fiquei muito emocionado, de vê-la ali no palanque político, em defesa da Democracia. Vi pessoas chorando. Ela conseguiu nos passar a noção de que se essa a lei passar porá em risco não só a terra, mas a cultura e a vida do povo indígena. De certo, se aprovada, iniciará um ciclo de guerra  nesses territórios , dando abertura a mais um período de genocídio dos povos originários do Brasil. Sônia Guajajara não representou somente as mulheres indígenas, ela representou todas brasileiras e brasileiros que lutam por um Estado Democrático de Direito.

Neste pequeno resumo, queremos citar, ainda ,  a bravura da nossa grande Beth Carvalho, que além de  trazer sua voz e  musicalidade ao ato veio com a novidade do momento: o samba  Não Vai Ter Golpe da autoria de Cládio Guima. 



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