segunda-feira, 18 de março de 2013

Os Dez Anos de Gestão do PT e a Mudança Conceitual de Cultura



 Por Alvaro Maciel

Primeiro veio a vitória da esperança sobre o medo, que levou Lula à Presidência da República.  E dez anos se passaram. De lá para cá, o MInistério da Cultura, sob o comando de Gilberto Gil, Juca Ferreira , Ana de Hollanda e agora com Marta Suplicy, se transformou num outro ministério, cuja demanda, minimamente, duplicou.   

Hoje, é evidente, que à uma  necessidade emergencial de reformas na estrutura do MinC e suas vinculadas . Simultaneamente,  há um esforço contínuo  por  maior dotação orçamentária. Esse legado, que gera novas demandas e exige novas reformas, deve ser visto de forma positiva. Mas, a maior conquista da Cultura Brasileira nesse período foi no campo conceitual.  Em resumo, sinto que o grande diferencial , em termos de políticas culturais no Brasil, se inicia em 2003, com a  disseminação  do conceito antropológico de cultura, que substitui  a visão   elitista  e pequena  que,  até então, era seguida pela maioria dos gestores públicos.  Hoje, observamos tanto nos setores mais avançados dos movimentos culturais, como na gestão do MinC, a consagração do conceito de Cidadania Cultural, adquirido, incialmente no campo teórico, através de Marilena Chauí.  




Após 10 anos de luta, chegamos, enfim,  ao momento  em que os Direitos Culturais  ganham cada vez mais espaço nas reivindicações sociais. E é bom saber que a Ministra Marta Suplicy também compartilha do mesmo desejo . Dessa forma, os espaços de reflexão sobre cultura,  certamente, se espelharão na teoria da brilhante professora, e, no modelo de gestão de Dilma Rousseff e de nossa atual ministra. Relembrando Lula, vamos fazer o óbvio e seguir os caminhos que nos levem às políticas culturais que garantam  o  direito a produzir cultura e usufruir dos bens culturais; a estar informado sobre os serviços culturais; a acessar espaços de debate, crítica e reflexão;  direito a participar das decisões quanto ao fazer cultural; a receber formação artística e cultural pública; a ter condições de experimentar e inovar.  


Desde 2003, nunca estivemos tão perto de uma conscientização nacional a respeito da importância da Cidadania Cultural como premissa para a elaboração de políticas públicas culturais. 

Álvaro Maciel é secretário estadual de cultura do PT

terça-feira, 5 de março de 2013

Plano Estadual de Cultura em Debate!



PROGRAMAÇÃO

08h30 Início Credenciamento

09h00 – Abertura
Autoridades locais e estaduais convidadas.

10h00 – Mesa:
Convidados:
Lia Calabre - doutora em História Social pela UFF. Pesquisadora e chefe do Setor de Estudos de Política Cultural da Fundação Casa de Rui Barbosa.
Bernardo Mata Machado - historiador, cientista político e Diretor de Programas Integrados da SAI/MinC.
Delmar Cavalcante - Coordenador do Sistema Estadual de Cultura SEC-RJ

13h00 Intervalo para almoço

14h00 Grupos Temáticos por Eixo
Eixo I - Cultura e Cidadania;
Eixo II - Cultura, Diversidade, Patrimônio e Memoria;
Eixo III - Cultura Educação e Juventude;
Eixo IV - Cultura e Desenvolvimento Sustentável;
Eixo V – Gestão da Cultura; e
Eixo VI - Financiamento da Cultura.
16h00 – Relato dos Grupos e Encerramento.

Recomendamos a leitura prévia da minuta disponível em:http://www.cultura.rj.gov.br/consulta-publica/plano-estadual-de-cultura

Informações: 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Audiovisual e infância no Brasil

"A questão fundamental que decidirá o futuro do Brasil se dá no plano dos valores." 

Emir Sader




O Brasil se vê crescentemente convocado a elaborar um pacto pela infância e articular uma série de políticas com objetivos e motivações múltiplas, desde as que se referem a índices educacionais, sanitários e de moradia, até os mais substantivos, neste caso, referentes à ampliação da cidadania e reconhecendo as crianças como sujeitos de direito. Na articulação entre essas duas dimensões abre-se a possibilidade de efetivarmos políticas que reconheçam vozes e necessidades das crianças e a perspectiva de, ao menos por uma fresta no paredão no qual se constitui a lógica consumista, estimularmos algum sentido libertário com força para orientar novas práticas sociais e oferecer o contato efetivo com a diversidade cultural que pulula no mundo.

A infância é um tema relevante em debate no Brasil há, pelo menos, trinta anos. Desde os anos 1980 que as preocupações com a escolaridade e o abandono de crianças nas grandes cidades ganharam visibilidade e passaram a ocupar discursos, alimentar projetos governamentais e não-governamentais e ocupar milhares de páginas de planejamentos de vários tipos. O problema é que essa relevância foi sendo traduzida em políticas públicas de maneira muito irregular.

Talvez não seja muito arriscado dizer que o tema “infância” ganhou espaço considerável nas mídias sociais à medida que passou a ser correlato dos debates no país sobre desenvolvimento. Crianças não escolarizadas que se tornariam mão-de-obra analfabeta e despreparada não podiam ser aceitas no país do futuro. Infantes abandonados aos olhos dos passantes eram poluição aos olhos do mundo. No Brasil, as crianças cumpriram por muito tempo um papel análogo à fama do próprio país: um eterno vir-a-ser, metáforas de uma nação inconclusa.

Nos últimos anos o tema da infância ganhou novos contornos e, necessariamente, passou a alimentar discursos e políticas sob novas perspectivas. Se no início do século passado criança era o que se chamava ‘crias’ da casa, de responsabilidade da família ou da vizinhança, agora aparece no centro do debate e sua fragilidade doméstica é substituída por sua visibilidade pública. Mesmo sabendo que a centralidade do tema da infância ainda é alimentada pelos debates e interesses referentes ao “desenvolvimento econômico”, também é preciso destacar os avanços provocados pela tríade “educação, cultura e direitos humanos” no que diz respeito ao tema.

Numa sociedade que fragmentou o conhecimento e também o exercício do poder, educação, cultura e direitos humanos se acercam da infância brasileira de maneiras distintas. Educação, mais estruturada, é a única que está representada em todos os municípios do Brasil - talvez apenas acompanhada das igrejas -: em cada cidade há, ao menos, uma escola, o que garante seu público. Além do corpo físico, a educação também é a de maior orçamento e claros instrumentos de gestão. Já os Direitos Humanos, com presença recente nas estruturas de governo, se relacionam com a infância brasileira a partir de uma pauta negativa: trabalho infantil, escravidão, violência. É a partir daí que se impõem sobre orçamentos e jornais e se insinuam no debate social.

A cultura, por outro lado, profundamente sedimentada como território do lúdico e do afetivo – aquilo que nos afeta sem coerção – talvez seja, entre as três, a que tenha a maior dívida com a infância. Historicamente, sua aproximação com o tema se deu por via indireta, por meio de políticas de fomento, de incentivo fiscal ou de editais públicos. Raras foram as políticas públicas de cultura – e aqui se inclui o audiovisual, claro – que se propuseram a dialogar com ele a partir do reconhecimento de seus direitos, suas carências e sua diversidade. 

Mesmo reconhecendo a existência rarefeita de políticas de cultura para a infância e, principalmente, da boa experiência da literatura infantil que, mesmo via educação, consolidou-se como política pública com criação de bibliotecas abertas ao público, qualificação das bibliotecas escolares e publicações regulares, não se sedimentou no país a partir de um arranjo sistêmico. 

As políticas de cultura voltadas às infâncias – uso aqui o plural para marcar à potencialização de uma diversidade que vai além do regional, mas envolve distintas fases, condições econômicas, tipos de escolas que freqüentam, se rural ou urbanos etc. – têm de, obrigatoriamente, estar articuladas com as políticas de educação, sobretudo por sua capilaridade e inteligência acumuladas, e com as políticas de direitos humanos: porque as políticas culturais, sobretudo quando vocacionadas às crianças, está tratando de valores. O mesmo deve acontecer com outras áreas de governo, como saúde e ocupação do espaço urbano, por exemplo, ainda que o eixo principal deva se dar com Educação e Direitos Humanos.

Acredito que devamos repensar nossas políticas culturais para que as buscas imaginativas para a transformação da sociedade estejam relacionadas não apenas a empreendimentos econômicos, mas a formas de solidariedade nutridas em uma visão mais complexa do mundo e em diálogo com as novas tecnologias. Não podemos pensar em políticas para a infância se não considerarmos que não vivemos mais em um mundo restrito, analógico e fraturado em culturas nacionais. Embora antigos conceitos ainda tenham valor e utilidade – como etnias, identidades, países e nações –, estamos todos sujeitos à participação em uma série de circuitos comunicacionais que nos põem em contato com muitas maneiras de viver. É nesse mundo multiconectado no qual vivem nossos filhos e netos e, portanto, é sob esta perspectiva que deve se estabelecer um novo diálogo. 

Quando Emir Sader nos diz que o futuro do Brasil vai se definir no plano dos valores, não está negando os aspectos mais duros da labuta econômica, mas nos alertando para um embate ainda mais relevante: o dos valores que vivenciamos e cultivamos e, portanto, do futuro que praticamos. Talvez por isso devamos nos lembrar que a dimensão dos direitos culturais antecede à dimensão econômica da cultura, ainda que não se contraponha nem se subordine a ela. A relação entre infância e mídia, portanto, pode ser chave para aquela disputa de valores, tanto por seu valor simbólico e cultural como por seu importantíssimo impacto sócio-econômico. Um pacto pela infância no Brasil deve considerar o papel do audiovisual para a sua efetivação. Estamos falando de uma ferramenta que é muito útil e oportuna a políticas de formação e de garantia de direitos, mas, também absolutamente adequada para entretenimento e explicitação dos vários mundos com os quais podemos estar conectados. Com tais funcionalidades e não sem riscos, torna-se vetor para a consolidação de mercados e para o dinamismo cultural.

Na prática, há mecanismos que devem ser acionados para dar concretude ao discurso. O Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), sob a coordenação do Ministério da Cultura/Ancine, é um deles, devendo criar linhas específicas de desenvolvimento de projetos, produção e distribuição de conteúdos dirigidos às crianças. A Educação, com a incorporação crescente do audiovisual como ferramenta pedagógica e de conhecimento, é outro. Os organismos de Direitos Humanos, com sua capacidade de articulação com os diversos órgãos e sedução do público, têm de ser linha de frente, estimulando, talvez, a aprovação de uma lei de responsabilidade com as crianças brasileiras. Na mesma linha, vale retomar um bom debate sobre o modelo urbano que temos no Brasil, onde, muitas vezes, os espaços (físicos) de sociabilidade são substituídos pela sanha imobiliária. Fundamental, porém, é que um pacto pela infância se constitua num grande pacto federativo no qual todos os entes se comprometam com metas e políticas específicas e articuladas, consolidando, assim, uma nova hegemonia. 

É muito importante que consideremos que o universo da cultura é o encontro de muitas éticas e estéticas, e isto, por si só, já deve nos estimular à busca de um ambiente mais libertário e disposto à superação de preconceitos: à negação, portanto, da cotidiana castração infantil. Para tanto, é preciso fazer com que nos multipliquemos por meio de buscas imaginativas, isto é, por meio de um diálogo que não se restrinja à mera conversação, mas se estabeleça quando tivemos algo a dizer, disposição a escutar e o respeito pelo dissenso. 

São muitas as infâncias: tantas quantas forem as idéias, práticas e discursos sobre elas. Assim, quando propomos que haja um Pacto pela Infância no Brasil, propomos que haja políticas públicas de audiovisual para a infância e que estas sejam ferramentas à disposição de uma nova lógica, na qual as infâncias brasileiras não sejam tratadas pelo Estado e pela sociedade como períodos de transição ou mero mercado consumidor, mas, na sua plenitude, exercitem a multiplicidade de idéias, práticas e discursos elaborados socialmente. Com este pacto, ao mesmo tempo em que implementaremos políticas e estimularemos novas práticas em torno das infâncias, estaremos conformando um campo a partir do qual se negociarão novos direitos, novos modos e novos territórios de ser infância.

Glauber Piva é diretor da Agência nacional do Cinema - Ancine

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Cultura na Baixada Fluminense – Eleições 2012 e Perspectivas





Jorge Cardozo (com bons pitacos do Álvaro Maciel)


Sobre as eleições 2012, os resultados do PT não foram bons em Nova Iguaçu, Belford Roxo e Mesquita. O bicho pegou geral. Também em Nilópolis, onde tínhamos proximidade, o trabalho será desarticulado. Duque de Caxias permanece uma incógnita. Alinhada com as nossas formulações gerais de políticas públicas, só mesmo a galera de São João de Meriti.
Enfim, mais e mais devemos acreditar e trabalhar uma frente que possa (re) organizar a sociedade civil, trazendo artistas, produtores, agentes, militantes da cultura na região, de preferência começando por iniciativas localizadas que possam vir a crescer até formar um frentão, de modo a contribuir para  que a  Baixada Fluminense saia do isolamento e da invisibilidade.

Como já desconfiávamos, para 2013/2014, não será pela via da participação em governos locais (ainda que esta seja uma arena importantíssima) que haverá a promoção de mudanças efetivas. Mas sim pela articulação de setores da sociedade interessados e/ou envolvidos na questão cultural, ainda que hoje não plenamente participativos. É fundamental, portanto, envolver a juventude, os profissionais de música, vídeo, teatro e outras áreas; os militantes da igualdade racial, a galera do samba, o povo LGBT, nosso pessoal que atua em educação, e as direções municipais do PT; todas e todos e mais as suas intercessões. As gestões se acabam, os governos se desfazem, quem chega tem receio de colocar azeitonas na empada de quem sai. E assim desmontam-se programas, projetos e trabalhos coletivos. Assim perde-se a memória da luta pela transformação, parecendo às vezes que o tempo todo se retorna ao ponto zero. 

Somente a partir de uma mudança no nível de consciência de parcelas expressivas da população, poderá haver uma mudança para melhor, constituindo novos e permanentes alicerces para o desenvolvimento cultural da Baixada. Sem basismo, mas sem crenças míticas de que governos nos quais participamos ou possamos vir a participar, às vezes pelas beirolas, em alianças artificiais, tragam avanços de fato para a nossa área.

A gestão pública de cultura tem se revelado extremamente frágil, quando não inexistente, na maioria das cidades da região. Os novos governos, pelo menos até agora (claro que é cedo para cobranças, mas não para apontar caminhos), não demonstraram nenhuma abertura de melhores perspectivas para a área. Nas demais cidades, especialmente as das “pontas” da Baixada (ou seja, Japeri, Queimados, Paracambi, Seropédica e Itaguaí de um lado; e, do outro, Guapi e Magé), em que pese à boa vontade e dedicação de alguns gestores, a pasta da cultura não tem verba para andar com as próprias pernas e nunca foi tratada como prioridade por parte dos chefes dos executivos municipais.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O Perigoso Recuo dos Partidos Políticos




Quem não conhece a História está condenado a repeti-la. Atualmente, a Grande Mídia nos impõe a mesma estratégia que usou para convencer e anestesiar a sociedade, nos momentos em que a elite capitalista se sentiu ameaçada.  À medida que tal fenômeno se repete, historicamente,  pagamos um preço cada vez maior.

Os partidos políticos do Brasil estão tão preocupados com a disputa eleitoral e com os espaços no governo, que não atentam para a gravidade da ação avassaladora do setor de Comunicação, mui propriamente chamado de Quarto Poder. Tal ação ganhou maior intensidade a partir da ascensão do PT à Presidência da República. 

Há uma espécie de “voz oficial” que dia e noite bombardeia os cidadãos a dizer que todo político é ladrão, o país está em mãos erradas, perdemos o rumo certo,  etc . A mesma voz que deu ao STF direito de condenar sem provas e ignorar as provas existentes nos processos, que pudessem atenuar ou inocentar os “réus”.

Por outro lado, a competência que o presidente Luís Ignácio Lula da Silva demonstrou para transformar a realidade do povo brasileiro e solucionar alguns problemas que atravessaram séculos, se traduz numa grande provocação ao Sistema. Diz a voz controladora “precisamos detê-lo a qualquer custo”. 

Essa mídia que aí está não dá ênfase, por exemplo, ao progresso científico mundial, de modo a produzir um conhecimento crítico a respeito das recentes descobertas.  A responsabilidade ético-política, que engloba o futuro da humanidade, está restrita à elite dominante. Como povo, não participamos do processo decisório.

Os partidos políticos estão acuados.  Perderam espaço para a mídia, que cada vez mais, investem na domesticação de consciências e sozinha define a agenda e a pauta nacional. Falta-lhes a indignação e a vontade de mudar, elementos fundamentais à existência das organizações políticas. Pior que isso é o surgimento de partidos que se aproveitam do espaço oferecido pela “reação social conduzida” e trabalham como colaboradores da mídia golpista. 

Com o envolvimento político do STF, entramos num jogo muito perigoso. Estamos aceitando o inaceitável, em termos de valores democráticos contemporâneos. Estamos diante de um modelo hegemônico de Comunicação disposto a inibir o avanço e a consolidação do nosso Sistema Democrático.  

Sempre que um país da América Latina assumiu a condução de seu destino e tomou decisões que contrárias aos interesses do Sistema Imperialista Mundial, esse filme se repetiu. Estudemos a História e vamos encontrar processos semelhantes, com intensas campanhas midiáticas que precederam derrubadas de presidentes, fechamentos de Câmaras Legislativas, assassinatos de lideranças políticas... e a ascensão de partidos de direita ao poder.  

O grande susto foi o Brasil chegar aonde chegou, em apenas dez anos. Os partidos de direita e a mídia andam juntos e formam um poderoso bloco. Querem retirar a Democratização da Comunicação da pauta nacional, bem como, as Reformas Administrativa e Eleitoral. Querem transformar em “traidores da Pátria” todos que ousaram desafiar o Sistema.   

Álvaro Maciel é Secretário Estadual de Cultura do Partido dos Trabalhadores - RJ