Por Roberto Gonçalves de Lima*
Existe uma prática recorrente da direita no período eleitoral de produzir factóides e disseminá-los de maneira covarde, sem dar tempo para resposta, sem se dispor ao debate franco e aberto, escondendo-se nas sombras como se escondem todos os que sabem que mentem e traem.
No entanto, nunca antes na história desse país uma campanha foi tão sórdida, tão canalha, tão covarde como esta que se desenrola sob os auspícios do senhor José Serra, que se especializou em atacar por trás e sempre fugir antes do revide. A política se torna um sujo jogo de nervos quando este senhor está presente.
Agora anda correndo pela internet um filmete que supostamente teria “vazado”. Trata-se de uma suposta reunião com José Dirceu e outros petistas, da qual Lula se evade quando “percebe que está sendo filmado”, reunião na qual supostamente se discutiria algo incriminador, e o filme que “vazou” seria a prova de que Lula “sabia de tudo”.
O filme, no caso, é um trecho retirado do documentário “Entreatos” do cineasta João Moreira Salles, que acompanhou de maneira consentida, ou seja, com total conhecimento de Lula, sua campanha em 2002.
Na cena divulgada, José Dirceu, coordenador da campanha de Lula, se reúne com outros membros do partido para iniciar uma reunião que provavelmente discutirá assuntos que são secretos mesmo, pois envolveriam estratégias de campanha que não poderiam ser conhecidas pelo adversário. Tudo normal, todo do jogo. O documentarista aproveita para registrar aquele momento enquanto pode, capturando o máximo de imagens interessantes.
José Dirceu pede ao cineasta que saia para que possa dar sequência à reunião e comenta sua desconfiança de que esse tipo de registro sempre pode ser “vazado” sem o consentimento dos participantes. Mal sabia ele que o filme acabaria mesmo “vazando”, mas de forma tão falsa como uma nota de três reais e meio.
Lula estava na sala e não participaria da reunião. Então resolveu sair. Simples assim. Mas na mente sórdida de quem tem que inventar mentiras para sobreviver ele fugiu ao perceber que seria filmado. Mas se ele sabia que estavam fazendo um filme sobre ele e sua campanha como poderia “perceber” que estava sendo filmado? Não é estranho?
Entreatos foi lançado nos cinemas e está ainda hoje disponível nas locadoras. Passou na TV a cabo e até na TV aberta, se não me engano. No entanto, teve um trecho seu retirado para parecer filme secreto do PT que teria “vazado’ para a internet. É tão amador, desrespeita tanto a nossa inteligência, que certamente se tornará um dos muitos tiros no pé da campanha de Serra.
Na mão de gente covarde e insidiosa esse trecho de filme vira uma “prova” cabal do envolvimento de Lula com sei lá o que, junto com sei lá quem, para fazer sei lá qual coisa errada, mas errado o suficiente para fazer o pai da sócia da irmã do Daniel Dantas sentir que a república estaria ameaçada.
Esse episódio me remete ao daqueles cartazes distribuídos na periferia das cidades do Brasil, nos quais, entre outras coisas, se “acusa” Dilma de ser a favor da adoção de crianças por casais homossexuais, o que, além de demonstrar o preconceito da direita com os homossexuais, despreza a necessidade dessas crianças que conseguiram um lar em um país com taxas tão baixas de adoção e tão altas de abandono.
Assim como o falso filme esses cartazes também são uma demonstração de que a campanha de José Serra se constrói sobre mentiras, pois não me lembro de Dilma haver se manifestado nem a favor, nem contra, nem muito pelo contrário sobre esse assunto, e produz um resultado perverso: o reforço do preconceito e do ódio ao diferente. Nesse caso, o que mais importa é que, para tentar vencer uma eleição Serra não se importa se, no dia seguinte, o país amanheceria pior do que quando a campanha começou.
Uma pessoa que se elegesse assim assumiria um compromisso programático com o preconceito, com a discriminação do diferente, com a perda de direitos e conquistas históricas como a possibilidade de adoção de crianças abandonadas por casais composto por pessoas dignas, mas do mesmo sexo. E uma pessoa que se elegesse assim estaria condenada a governar disseminando o medo e a mentira, pois foram eles seus verdadeiros cabos eleitorais.
Dilma Rousseff sofreu até agora todo tipo de ataque baixo, covarde e desumano, mas manteve-se com a altivez de quem sabe que não se trata de vencer a qualquer preço e de quem sabe que precisa manter a própria coerência, enquanto se esquiva das armadilhas deixadas no caminho. Por isso podemos ter orgulho dela.
Você pode até não gostar da gente, mas você sabe que no PT temos compromisso com o respeito às diferenças, que não temos compromisso com o medo e com o preconceito e, principalmente, que debatemos questões importantes como essa agregando o maior número de pontos de vista possível. Se vencermos essa eleição será para ajudar o Brasil a seguir melhorando e não para torná-lo um lugar de ódio e preconceito.
Eu discordo de algumas idéias de Marina Silva e pelo Plínio Sampaio nessa campanha, mas são discordâncias que a gente debate francamente e o povo escolhe de que lado fica. Com esse senhor José Serra é diferente. Não sei se quem está ali é o moço amigável e bonzinho da foto ou o crápula que se move nas sombras da desinformação. O que eu sei é que, com ele, teríamos um retrocesso violento no quanto já conquistamos de justiça, respeito à diferença e combate ao preconceito na sociedade brasileira ao longo de décadas de luta.
A campanha de Geraldo Alckmin para presidente em 2006 tentou disseminar o medo, mas a esperança venceu. A campanha atual de José Serra está tentando plantar o ódio, mas o amor vai vencer.
E eu sigo cantando: Dilma lá! Brilha uma estrela. Dilma lá! Cresce a esperança. Sem medo de ser, sem medo de ser, sem medo de ser feliz!
*Roberto Gonçalves de Lima é dramaturgo e gestor cultural
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