quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Dia Nacional do Samba e as Políticas Culturais

por Álvaro Maciel


Na minha juventude, por diversas vezes, eu, Maurício, Altair, Julinho e Wanderley Monteiro, descíamos o morro para “reforçar” a roda de samba na casa de D. Vanda Cordeiro, filha de Mário Lago. Nesses encontros, convivemos com bambas do peso de Élton Medeiros, Mariuzinho, Paulão Sete Cordas, Walter Alfaiate (em memória), Délcio Carvalho, dentre outros. Num bate papo entre o historiador Sérgio Cabral e alguns sambistas, pela primeira vez ouvi que nos tempos idos a polícia reprimia as reuniões sociais de famílias negras, somente pela denúncia de que... ”ali tem samba”.
Hoje, quinta-feira 02/11/2010 o RJ -TV mostrou nossa turma reunida lá na Comunidade - Chapéu Mangueira e Babilônia, numa roda de samba. Isso prova que o samba conquistou de vez o seu espaço na sociedade. No entanto, redemocratizar o País perpassa pela democratização da cultura. Sabemos que, além do samba, outras manifestações populares também tiveram reconhecimento negado, explícita ou implicitamente, pela inteligência oficial. Devemos fazer saber, que as grandes peças musicais reconhecidas na Europa têm origem em festas, danças e manifestações musicais oriundas da gente simples do interior, do campo e das aldeias daquele continente.
O popular e o erudito sempre se encontram, não são diferentes do ponto de vista da essência criativa. Então, por que tratar com diferença, um ou outro lado. É importante aqui destacar que, com a conquista do reconhecimento o samba ganha mais força para obter políticas públicas voltadas para ele. O Patrimônio Imaterial é formado por bens que denotam o modo de pensar e de ver o mundo. Portanto, nós do mundo do samba, temos formas, costumes e filosofia próprios. Quando alguém se auto afirma como “sambista”, isso tem um amplo e diverso significado.
Nós, que militamos na área cultural, que participamos no fronte e na retaguarda, temos a obrigação de chamar a atenção da sociedade para esses detalhes. Nossas intermináveis reuniões partidárias pela Cultura, não foram, não são e nunca serão em vão. O samba; de terreiro, partido-alto, de enredo e outras variações; foi reconhecido em 2007, tornando-se Patrimônio Cultural. Esse fato não surgiu assim do nada, precisamos nos lembrar dos companheiros que lutaram nessa empreitada. A postura política assumida por alguns sambistas, juntamente com os militantes da Cultura e gestores públicos do MinC/Iphan, teve influência direta nesse e em outros processos de mudança. A República que já perseguiu tantas manifestações populares, hoje presta sua homenagem ao samba.
Viva o Dia Nacional do Samba!!!

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