quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O CONSELHO DOS TAMBORES


 “Quando andei de viagem pelo Nordeste e me dedicava em especial em conhecer a musicalidade da região, me interessei desde logo pela feitiçaria. Isso era lógico, porque feitiçaria e música sempre andaram fundidas uma na outra. Um autor esotérico apelidou mesmo a música e a alquimia de “filhas mais velhas da magia”. (Mário de Andrade - Música de Feitiçaria no Brasil)

Desde os primeiros contos as relações sociais do Brasil foram adornadas por obras onde os tambores foram testemunhados como uma sólida carta de resistência. Em alguns momentos a opressão a esta espécie de conferência de sons advertia que, por trás daquelas batidas hipnóticas existia um trabalho sério e científico que daria caráter definitivo a uma civilização que se expandia todos os santos dias num projeto que continuava com os pés descalços no chão, mas com o compromisso de trabalhar feito um guardião das tarefas de conversão onde os indicadores buscariam uma forma de datilografar tratados que seriam a própria referência bibliográfica de uma nação de tambores.

Imaginar tudo isso para ter uma interpretação do mundo e do lugar onde estamos agora no sentido de fortalecer a busca pela cidadania e, acima de tudo, de buscar uma outra história diferente do totalitarismo da mídia, é nossa tarefa urgente, pois os gigantes da comunicação trabalham mais do que nunca para transformar tudo em objeto de mercado como se em nenhum lugar as comunidades fossem formadas por pessoas onde tudo é imposto pelo senso comum e pelo pensamento único.

O que há de diferente entre o início de dois séculos distintos para o planejamento do desejado futuro do Brasil depende, sobretudo, de uma reforma prática nas nossas relações institucionais que hoje sofrem uma aglomeração de técnicas contemporâneas para o “exercício da inventividade”. Como disse Milton Santos, há no fundo dessa baixa visão uma tentativa de realizar a mesma história a partir dos vetores “de cima” para que as classes dominantes realizem a nossa história a partir de um comando em que os vetores “de baixo”, ou seja, a sociedade volte a um período anterior de toda a nossa metamorfose com o mesmo grau de docilidade que as primeiras expedições civilistas nos impuseram.

Neste início de século se há uma nova divisão internacional, temos que observar o que nos oferece a herança conjunta existente nas culturas populares solidamente estabelecidas pela vontade e pelo poder do povo. Deste modo com uma estrutura dotada de movimento próprio, o Brasil pode ser um dos principais atores das novas soberanias globais.

Nosso processo dialético permanentemente reconstruído por definição a partir de nossa cultura não aceita que os atores hegemônicos nos imponham uma obediência alienada, subalternizada e hegemoneizada, conduzida por um mercado cego, indiferente às heranças e às realidades dos lugares e da sociedade como é típico da visão de troco miúdo dos gestores do capitalismo corporativo.

As nossas realidades gritam por um período histórico, gritam pela totalidade do Cultura Viva que tem, como idealizado, as mesmas concepções Andradinas, em que a cultura não é vista como negócio, mas como principal ativo do Brasil para nos impulsionar a um modernismo econômico do século XXI, onde o desenvolvimento seguiria o sentido da amálgama da Semana de 22 que criou um círculo de luz e impulsionou o Brasil do século XX 

Por Carlos Henrique Machado Freitas 
  

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