segunda-feira, 13 de março de 2017

Prisões Públicas como PPPs – e os presos viram produto




A participação da iniciativa privada na Administração Pública e nas Políticas Públicas deve ser uma exceção e não um modelo. O plano do PSDB de implantar o Estado Mínimo no Brasil, e de acelerar a concentração de renda, está em curso desde os anos 90. A estratégia da direita para atingir seu objetivo tem duas metas distintas. A primeira é de continuar com as privatizações: compra de empresas públicas. A segunda é avançar com a substituição gradativamente da gestão pública pela gestão privada, através de parcerias, terceirizações e contratos de gestão, onde os empresários prestam serviços e administram setores do Estado por meio de concessão.

É estarrecedora a proposta Senador Aécio Neves ao presidente Michel Temer da criação de parcerias público-privadas (PPP) para a gestão de prisões brasileiras. Com o modelo PPP os presos são entregues aos cuidados de empresas privadas, que buscam o lucro através do corte de gastos. O lucro aumenta em decorrência da quantidade de presos e do tempo em que estes permaneçam na prisão. Ou seja, os presos são vistos pelos empresários como um produto.

Mais uma vez uma “crise” é usada como argumento de apropriação pelo capital de um espaço público. Estamos diante de uma avalanche de processos de concessão de serviços públicos ao capital privado não acompanhada da devida estruturação do Estado para o direcionamento das políticas públicas e para o exercício da necessária fiscalização perante o grande número de concessões.

O assassinato de 60 presos no maior presídio de Manaus e, quatro dias depois, mais 33 num presídio público de Boa Vista, nos primeiros dias de 2017, acelerou a astúcia do senador Aécio Neves, que viu a oportunidade de encaixar o discurso das PPPs como solução da crise do sistema carcerário brasileiro. É evidente que o presidente Temer gostou da ideia.

Tanto o processo de privatização de empresas públicas quanto o de concessão de serviços que vivemos no Brasil fazem parte de um projeto neoliberal nefasto e violento por descaracterizarem a ação do Estado e seu papel constitucional e estratégico. Estamos cansados de ver pelo mundo a fora os trágicos resultados do neoliberalismo gerados pelo aumento exponencial da desigualdade social.

No lugar de querer privatizar o serviço carcerário, o governo federal deveria era estudar a implantação de novos programas educacionais, de treinamento profissional e de reintegração social dos egressos. O aumento das ofertas de serviços de reabilitação dos presos deveria ser uma meta anual. O Sistema dispõe do Fundo Penitenciário, que não consegue cumprir suas metas para atender as demandas do setor, onde o dinheiro continua parado sem a devida destinação.

(por Álvaro Maciel e Fernanda Camargo)



Stedile fala sobre impactos das mudanças na aposentadoria especialmente para os trabalhadores rurais


 Stedile explica os  motivos pelos quais a população deve resistir às mudanças na aposentadoria
Alterar a idade mínima e o tempo de contribuição para a aposentadoria. Esses são alguns dos pontos da reforma da previdência promovida pelo governo de Michel Temer. A medida é polêmica pois mexe com a vida de trabalhadores da cidade e também com a dos trabalhadores rurais, principalmente das trabalhadoras rurais. Dessa forma ela vem sendo muito criticada por movimentos populares e por centrais sindicais.

Para debater e entender melhor esse tema e outros da política nacional, Vívian Fernandes entrevistou João Pedro Stedile, que faz parte da direção nacional do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

O senhor poderia comentar a mudança da idade mínima para a aposentadoria, prevista nessa reforma da previdência? Se hoje existem diferenças na idade entre homens e mulheres e entre trabalhadores rurais e urbanos, com a reforma de Temer, todos teriam idade mínima de 65 anos para se aposentar. Então como essa mudança iria impactar a vida dos trabalhadores do campo?

Essa reforma do governo Temer é ilegítima. Esse governo não tem moral nenhuma para propor nenhuma reforma da Previdência, que é uma conquista dos trabalhadores brasileiros através da Constituinte de 1988 e espero que essas mudanças não tenham apoio, nem sequer dos deputados e partidos conservadores que apoiaram o golpe, tal a infâmia da sua natureza. Na verdade, ela representa uma crueldade contra todos os trabalhadores, porque tira o direito do sujeito se aposentar.

A lei atual foi uma conquista de muitos anos de luta e garante a aposentadoria para as mulheres aos 55 anos no campo pois tanto anto as mulheres como os homens na roça começam a trabalhar com oito ou dez anos, mas mesmo se começassem aos 14 anos. Aos 55 anos, a pessoa já trabalhou 40 anos.

Em segundo lugar, o trabalho na agricultura é o segundo trabalho da história da humanidade que exige mais exercício, mais sacrifício humano. Só perde para a mineração, que a pessoa trabalha embaixo dos túneis e pega sol, chuva, está à mercê de todas as temperaturas. Isso desgasta muito a vida das pessoas e por isso que nós vamos continuar lutando para que todos se aposentem, as mulheres com 55 e os homens com 60.

É uma besteira comparar todo mundo daqui pra frente, para se aposentar com 65 anos, tanto na cidade como no campo, o que exigiria as pessoas trabalharem 50 anos na agricultura, o que é uma vergonha. O que é mais ridículo, é que a maioria desses ministros e senadores do governo já se aposentaram com 48, 53 anos, e com aposentadorias acima de 10 mil reais. Se essa proposta de reforma da Previdência fosse justa, o primeiro artigo deveria ser assim: "Todos os políticos, daqui por diante, seguirão essas mesmas regras".

Quais outras mudanças que essa reforma da previdência traria e que afetariam a vida de todos os trabalhadores, ou seja, porque que as pessoas deveriam ser contra a reforma da Previdência?

O segundo motivo grave é porque a reforma desvincula os benefícios da previdência do salário mínimo. Nos governos Lula e Dilma, o salário mínimo praticamente triplicou. Então, hoje, uma pessoa que está aposentada, ou que recebe auxílio-maternidade, recebe 990 reais. Com a reforma da Previdência, eles estão dizendo: o salário mínimo não é mais referência pros benefícios, tipo auxílio maternidade, auxílio doença e nem para a aposentadoria.

E quem vai fixar esses benefícios vai ser o ministro da Fazenda, um burocrata que ninguém elegeu, e que, sentado em sua cadeira, faz as contas e diz: "Este ano o auxílio da Previdência vai ser R$ 500". Então, nós não podemos aceitar a desvinculação do salário mínimo porque, de fato, o salário mínimo, como está na lei desde o tempo de Getúlio Vargas e como está no seu conceito, é aquele mínimo que uma pessoa deveria receber para ter as mínimas condições de sobrevivência na nossa sociedade.

E é por isso que nós dizemos que essa reforma da Previdência vai atingir justamente os mais pobres, aquele desvalido, que recebe por idade depois dos 70 anos, a mãe lá da roça que ganhou nenê e não pode mais ir pra roça, o cadeirante, que recebia uma ajuda e agora eles vão cortar tudo isso.

Mas esse dinheiro é do povo brasileiro. E nós, que de comum acordo lá na Constituinte dissemos: em primeiro lugar nós temos que preservar para que os idosos, os cadeirantes, as pessoas que têm alguma deficiência, as mães tenham uma garantia de um benefício para garantir uma vida honesta, que dê pelo menos o mínimo de segurança que essas pessoas possam ficar tranquilas, para que não passem fome. Então é por isso que somos contra. Nós vamos nos mexer para derrubar a reforma da Previdência e se der, derrubar esse governo junto.

Outro tema da política nacional é Reforma Agrária, que é a principal bandeira do MST. Você poderia explicar a situação da Reforma Agrária no atual governo e o que o MST propõe como Reforma Agrária?

Desde que os golpistas chegaram ao governo eles simplesmente acabaram com o Ministério da Reforma Agrária. Segundo não houve nenhuma desapropriação de terra conforme manda a lei, que no Brasil diz o seguinte: "Devem ser desapropriadas todas as grandes propriedades improdutivas"; portanto, que sejam mal utilizadas e acima de 1500 hectares.

Então, nenhum fazendeiro que tenha menos de 1500 hectares vai ser atingido e nenhum deles pode dizer que não vai ficar rico se ele trabalhar na terra com mil hectares, com 1,2 mil hectares. Nossa lei de Reforma Agrária é muito generosa para os fazendeiros. Mas nem isso eles aplicam.

O governo acabou com outras políticas públicas que ajudavam o camponês na época do Lula e da Dilma, como por exemplo, o Programa de Assistência Técnica, que pagava os agrônomos para levar assistência técnica; o programa de compra de alimentos, que depois era transferido para as escolas, para os quartéis, hospitais, que é o chamado PAA.

Hoje, os camponeses, seja com terra ou sem-terra, praticamente estão à deriva porque o governo golpista dominado pelos fazendeiros simplesmente os abandonou. E agora estão ameaçando com uma situação ainda pior: o governo vai mandar uma Medida Provisória nos próximos dias para o Congresso autorizando a venda das nossas terras para o capital estrangeiro, que hoje está proibido.

Pela Constituição, um capitalista estrangeiro só pode comprar até 1500 hectares e tem que passar pelo Congresso e pelo Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária]. E o governo diz que colocar limites, que (o estrangeiro) "só vai poder comprar até 200 mil hectares". Ora, a cidade de São Paulo tem 100 mil hectares! É como se uma multinacional viesse aqui e pudesse comprar toda a cidade de São Paulo só pra você ter uma ilustração do tamanho.

Essa proposta de vender terra para o capital estrangeiro é tão absurda que até as Forças Armadas, através do Ministério do Exército, já se manifestaram contra porque uma das funções constitucionais do Exército é proteger a soberania nacional do nosso território.

O que os movimentos populares e o MST vêm organizando de ações e lutas e como as pessoas que não fazem parte de movimentos podem participar destas manifestações?

Se o povo não se mobilizar, não se manifestar, não protestar, não defender seus direitos, esse governo não vai nos respeitar.

Então o MST, assim como outros movimentos do campo, participa de uma coalizão que reúne mais de 80 movimentos populares do Brasil, pastorais das igrejas católica, luterana, metodista, chamada Frente Brasil Popular. Uma vez por mês nos sentamos para decidir o que vamos fazer para defender os nossos direitos.

No nosso calendário de lutas, no dia 15 de março os professores e professoras marcaram o início de uma greve geral em defesa da educação e contra a reforma da previdência.

O caso dos professores é ainda mais grave. Imagine uma senhora professora com 65 anos de idade, dando aula numa sala de aula, aguentando os nossos filhos? Isso é uma agressão! Ou seja, em todos os países o professor precisa ser valorizado, porque é ele quem educa os nossos filhos. Então com 25 anos em sala de aula já está bom.

Daqui pra frente vamos para as ruas, vamos apoiar os professores nas greves, vamos ocupar prefeituras, as escolas de ensino médio para protestar contra esse governo. E não podemos mais parar enquanto não derrubarmos esse governo. O Temer não foi eleito por ninguém e eles derrubaram a Dilma, que não cometeu nenhum crime. Vamos à luta companheiros, porque só não ganha quem não luta!

Por Vivian Fernandes , 11 de março de 2017
Fonte: Brasil de Fato



Edição: Camila Maciel

segunda-feira, 6 de março de 2017

Um ano após condução coercitiva ilegal e outras violações, Moro segue impune sua perseguição contra Lula



Completou um ano, neste sábado (4/03), o nefasto episódio da condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depor na sede da Polícia Federal do aeroporto de Congonhas, em São Paulo (SP). Após a medida ilegal e arbitrária, o juiz responsável pela Operação Lava-Jato, Sérgio Moro, protagonizou uma série enorme de violações da lei que prejudicaram o direito de defesa de Lula e de outras pessoas – como a presidenta Dilma Rousseff – que são vítimas da perseguição judicial comandada pela “República de Curitiba”.
Os advogados do ex-presidente denunciaram - inclusive em petição à Comissão de Direitos Humanos da ONU - cada uma das ilegalidades cometidas por Sérgio Moro e pelos procuradores e delegados que se somaram à estratégia de lawfare* contra Lula. Foram cobradas dos órgãos de controle judicial as sanções e reparações cabíveis, sobretudo o afastamento do magistrado por absoluta falta de imparcialidade no caso, mas ele jamais sofreu qualquer penalidade.
Mesmo o Supremo Tribunal Federal – onde o falecido ministro Teori Zavascki teceu duras críticas ao vazamento ilegal das conversas entre Dilma e Lula – não determinou qualquer medida que garantisse o pleno direito à defesa e o respeito ao devido processo legal. No Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), a situação foi ainda pior: as ilegalidades de Moro foram não apenas ratificadas ou minimizadas, mas geraram manifestações de natureza política favoráveis à atuação do juiz que costuma se vestir todo de preto nos inúmeros eventos sociais nos quais desfila como celebridade.
Para o procurador da República Eugênio Aragão, a Lava-Jato entrará para a história com essa “mácula” que é a imparcialidade dos agentes públicos que a conduzem. A Lava-Jato servirá inclusive, diz Aragão, para os próprios juristas aprenderem “como não se faz justiça” numa democracia. “A Operação Lava-Jato pode até dar alguma contribuição, mas ela vai ficar marcada na história por esses abusos que foram gritantes. Condução coercitiva, não só do Lula, mas de qualquer pessoa que não tenha sido intimada, é um abuso. Se a pessoa em momento nenhum prestou resistência, você não pode sair presumindo que se ela não for conduzida ela vai, vamos dizer, se conectar com outras testemunhas para falsear. O que se tem com isso é uma presunção de culpabilidade das pessoas ao invés de se trabalhar com a presunção de inocência”, criticou Aragão, que era o ministro de Justiça do governo Dilma Rousseff no momento do golpe parlamentar.
Segundo o líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), apesar da impunidade de Moro, a ofensiva contra Lula não funcionou. “Essa operação para criminalizar Lula está dando com os burros n’água. A cada dia que passa, se comprova mais que Lula é inocente de todas as acusações. E cada dia mais o povo brasileiro lembra de Lula e o coloca como esperança de uma vida melhor”, avalia o líder petista, que considera grave a impunidade de Moro.
“O STF deveria tomar atitudes para evitar esse tipo de perseguição, sobretudo porque estamos vendo que esse tipo de conduta [de Sérgio Moro] está se proliferando entre juízes que conduzem processos ao arrepio da própria lei”, cobra Zarattini.
Seletividade – De acordo com Aragão, a condução de Lula deixou todos “atônitos” em relação à seletividade política explícita. “A condução coercitiva de Lula não era a apenas a condução coercitiva de mais uma testemunha da qual se pressupôs que ela não quisesse comparecer se ela tivesse sido contatada. Não, trata-se de uma violência praticada contra um ex-presidente da República que tem uma gravíssima conotação política. Nós não conhecemos nenhum outro político de peso que está em situação parecida com a do presidente Lula, seja Serra, seja Aloysio Nunes, que tenha sido conduzido coercitivamente. Isso mostra também uma enorme seletividade política da própria operação”, ressaltou o procurador.
Quem também sofreu com a atuação politizada de Moro foi o jornalista Breno Altman, do site Ópera Mundi. A exemplo de Lula, Altman foi conduzido coercitivamente – em abril do ano passado – para prestar depoimento sem que tivesse recebido qualquer intimação anterior. Agora, o jornalista foi absolvido, mas afirma que sua vida foi arruinada pelo juiz paranaense. “Apesar de o juiz Sérgio Moro ter me declarado inocente, eu paguei uma pena. O fato é que eu paguei por um crime que não cometi, e tenho certeza que essa pena não será compensada. Toda publicidade do site, em função da minha condução coercitiva, foi cancelada. Jornalistas vivem de imagem e credibilidade”, explicou Altman em entrevista à Folha de São Paulo.
Rogério Tomaz Jr.
*Lawfare é o conceito dado à estratégia política de ataque e desconstrução da imagem de uma liderança a partir de seguidos processos judiciais.
Charge: Latuff

sábado, 4 de março de 2017

O PT e o seu Ponto Transição



(Por Álvaro Maciel)

Além de decidir sobre o seu próprio reordenamento, organizacional e político; ainda que sejam imprescindíveis ao processo sua autocrítica e sua reorganização; o PT precisará estudar profundamente a conjuntura de transição que envolve o país e o mundo. Seu processo interno de mudança deve ter como norte a confluência de grupos e ideias diferentes que contribuam para a formação de um projeto sólido o bastante para se manter num ambiente novo, desconhecido e desafiador ainda sem sua definição final, tanto no Brasil como no mundo.


Se abrirmos para uma reflexão mais geral veremos que estamos em uma transição global, provocada por esgotamentos de alguns sistemas, sem o surgimento de novos. A crise mundial é, portanto, previsível e calculável; e sua gestão uma questão da geopolítica. Devemos reconhecer que o Brasil vive seu momento próprio de transição, pelo qual passam os rearranjos de partidos políticos e outros sistemas. E para início de conversa temos que destacar a importância que teve o PT para o ciclo da política brasileira nos últimos 30 anos.

É muito delicado tentar prever o futuro do partido depois de seguidas e profundas mudanças conjunturais. Há quem diga que ele se extinguirá e quem diga que não. Há quem aposte que seu período de maior influência tenha passado, todavia há aqueles que ainda apostam que somente ele, o PT, tem condições de provocar uma nova mudança a favor do Estado Democrático de direito e promoção do bem estar social. E há o bloco dos que preferem aguardar os próximos acontecimentos no âmbito do governo federal, da política e da economia e das investigações relativas à Lava Jato, até o final do ano. Dependendo dos acontecimentos, só a partir de alguns resultados é que teremos realmente condições de construir uma projeção mais segura.

Mas quem é petista sabe que o PT precisa decidir logo de que forma vai se organizar para prosseguir. Não haverá o tempo de espera considerado “mais seguro”. A disputa política e a própria sobrevivência exigirão que o partido se arrisque e escolha o seus próximos objetivos. O sucesso, ou insucesso, de sua reorganização estará diretamente ligado ao ambiente que seus quadros políticos criarão para a reflexão e avaliação dos processos anteriores. Esperamos que o debate interno e a seleção de ideias que possam definir os novos rumos do partido. 

Logo, cuidar desse ambiente de transição é vital ao principal partido de esquerda da América Latina. Esse ambiente deverá estar aberto à apreciação de novas ideias e garantir as manifestações dos diversos setoriais que se organizam vinculados ao partido. Deverá, ainda, respeitar as premissas da liberdade, igualdade e organização para que se torne um espaço de concepção com real amplitude.   Será o momento sagrado de reafirmar os anseios e bandeiras consagradas pela militância petista mais tradicional e que agregue as inovações conceituais e de práxis, sugeridas pelos mais jovens.

Institucionalmente, o PT se organizou a partir do convívio direto com as bases populares. Teve papel fundamental na criação e expansão de um campo democrático que mais tarde viria a ser tornar hegemônico, sem perder a sua pluralidade. Em pouco mais de três décadas vimos a história de um partido que constituiu protagonista da construção dos principais processos de inclusão social da história do país. Podemos acentuar a importância deste processo como sendo de vida ou morte de um partido que teve nas últimas décadas a função de estimular a participação da população excluída no processo de construção das políticas públicas.

O ponto transição do PT nos instiga a pensar também na melhoria do uso das novas tecnologias e ferramentas de comunicação, pois, enquanto cuidou da função governar o partido deixou os cuidados com sua própria organização aquém de suas necessidades. Seus quadros terão, mais uma vez, que se posicionar diante desse enorme desafio de buscar entre o tradicional e o novo um ponto de coesão que una o partido em torno de um novo projeto organizacional e político.

Na vivência partidária, como em muitos outros segmentos, a identificação e compreensão dos erros devem ser o ponto de partida para combatê-los.  Geralmente os erros são resultados de processos. Portanto é necessário descobrir quais os processos falhos deram margem ao surgimento dos erros cometidos.  Logo, a reconstrução do PT implicará na avaliação de processos internos visando à eliminação ou correção dos mesmos. Para dar conta dessa tarefa terá que utilizar outros espaços, além de seus auditórios e salas de reuniões. E uma das principais tarefas será a avaliação do processo para escolha de seus quadros dirigentes, o PED, que não vem produzindo bons resultados. Deverá pensar também num formato mais horizontalizado para a sua vivência interna, já que sua estrutura verticalizada se distanciou das práticas mais libertárias, democráticas e progressistas de tomada de decisão.




Além de decidir sobre o seu próprio reordenamento, organizacional e político; ainda que sejam imprescindíveis ao processo sua autocrítica e sua reorganização; o PT precisará estudar profundamente a conjuntura de transição que envolve o país e o mundo. Seu processo interno de mudança deve ter como norte a confluência de grupos e ideias diferentes que contribuam para a formação de um projeto sólido o bastante para se manter num ambiente novo, desconhecido e desafiador ainda sem sua definição final, tanto no Brasil como no mundo.

A classe política brasileira se precipitou ao reivindicar o Impeachment da presidente Dilma Housseff apenas pelo argumento da incompetência e da convicção do que se achava ser o melhor para o país. Feriu-se gravemente a nossa democracia. Tal golpe não foi contra o PT e sim contra o maior país da América Latina e seu povo. Somos o único país que apresentou ao mundo um modelo de desenvolvimento de crescimento econômico, com inclusão social e distribuição de renda.  É inaceitável a partilha das nossas riquezas minerais com as nações mais desenvolvidas e a instauração de forma arbitrária do modelo de Estado Mínimo no Brasil; em detrimento ao bem estar social do povo brasileiro.

Por fim, o PT não pode abrir mão desse legado. Foi durante os governos petistas que o Brasil foi retirado do mapa da fome e que a geração de empregos bateu todos recordes do continente Sul Americano. Fechamos 2014 com a menor taxa de desemprego já registrada na história do país. Na média do ano, ficaram sem trabalho apenas 4,8% dos brasileiros. Basta estudar a economia do planeta no mesmo período para se perceber o grande feito realizado pelo governo brasileiro nas gestões do PT. Sua principal tarefa atual é reorganizar a própria casa e se renovar para o enorme enfrentamento que está posto.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Rui Falcão defende “Diretas Já” para barrar programa recessivo de Temer

   

O presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão, concedeu entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, publicada no domingo (25), em que defendeu a antecipação de eleição direta para presidente como forma de por fim ao programa recessivo imposto pelo usurpador Michel Temer (PMDB).

“Eles deram o golpe com duas promessas para a população: acabar com a corrupção que eles atribuíam ao PT e recuperar a economia no curto prazo. Não fizeram nem uma coisa nem outra”, afirmou. “É preciso dar um fim neste programa recessivo com a substituição do governo. É por isso que nós temos dito, e isso tem tido eco na sociedade, que é preciso antecipar as eleições”.

Para ele, o governo ilegítimo se vale da correlação de forças atual para desmontar a Constituição Federal e tudo que foi construído durante décadas pelo povo brasileiro, e defendeu construir um processo que leve a uma Constituinte.

“A Constituição já recebeu mais de 30 ou 40 emendas. E, além disso, está sendo destruída sem uma Constituinte. Está sendo destruída na prática como é o caso da PEC 55”, destacou.

Lula presidente – Falcão reafirmou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o candidato do PT à Presidência da República e declarou que a melhor maneira de tentar barrar o risco de Lula ficar inelegível, por conta das perseguições jurídicas da qual é alvo, é colocar publicamente para a população a pré-candidatura do Lula com um programa de reconstrução da economia nacional.      “Assim ficará muito claro para a população qual o objetivo dessa perseguição. Aí não será mais um eventual pretendente. Será a interdição de alguém que se coloca publicamente como candidato”, disse.


O presidente do PT saiu em defesa de Lula e garantiu que a relação do ex-presidente com as empreiteiras é pública. “Ele ajudou de forma legítima para que estas pudessem ter contratos no exterior gerando empregos e divisas para o Brasil. Fez palestras para essas empresas, todas declaradas e comprovadas”, enfatizou.

6º Congresso – O presidente da legenda acredita que o Congresso Nacional do PT, marcado para o primeiro semestre de 2017, será o momento de dosar e medir que tipo de balanço o partido precisa fazer. “Precisa ver o que necessariamente é autocrítica e para quem você faz”, ressaltou. “Temos mecanismos internos, comissão de ética, uma corregedoria, para avaliar comportamentos de filiados dentro das nossas regras com direito de defesa, contraditório, no devido processo legal do PT”, concluiu.

Segundo Falcão, o PT não deve mais aceitar que se rebaixe as bandeiras históricas do partido: “O PT tem que se aplicar mais na disputa de ideias na sociedade”, defendeu.


Da Redação da Agência PT de Notícias
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula