(Por Álvaro Maciel)
Além de decidir sobre o seu próprio reordenamento, organizacional e político; ainda que sejam imprescindíveis ao processo sua autocrítica e sua reorganização; o PT precisará estudar profundamente a conjuntura de transição que envolve o país e o mundo. Seu processo interno de mudança deve ter como norte a confluência de grupos e ideias diferentes que contribuam para a formação de um projeto sólido o bastante para se manter num ambiente novo, desconhecido e desafiador ainda sem sua definição final, tanto no Brasil como no mundo.
Se abrirmos para uma reflexão mais
geral veremos que estamos em uma transição global, provocada por esgotamentos
de alguns sistemas, sem o surgimento de novos. A crise mundial é, portanto,
previsível e calculável; e sua gestão uma questão da geopolítica. Devemos
reconhecer que o Brasil vive seu momento próprio de transição, pelo qual passam
os rearranjos de partidos políticos e outros sistemas. E para início de conversa
temos que destacar a importância que teve o PT para o ciclo da política
brasileira nos últimos 30 anos.
É muito delicado tentar prever o
futuro do partido depois de seguidas e profundas mudanças conjunturais. Há quem
diga que ele se extinguirá e quem diga que não. Há quem aposte que seu período
de maior influência tenha passado, todavia há aqueles que ainda apostam que
somente ele, o PT, tem condições de provocar uma nova mudança a favor do Estado
Democrático de direito e promoção do bem estar social. E há o bloco dos que
preferem aguardar os próximos acontecimentos no âmbito do governo federal, da
política e da economia e das investigações relativas à Lava Jato, até o final
do ano. Dependendo dos acontecimentos, só a partir de alguns resultados é que
teremos realmente condições de construir uma projeção mais segura.
Mas quem é petista sabe que o PT precisa
decidir logo de que forma vai se organizar para prosseguir. Não haverá o tempo de
espera considerado “mais seguro”. A disputa política e a própria sobrevivência
exigirão que o partido se arrisque e escolha o seus próximos objetivos. O
sucesso, ou insucesso, de sua reorganização estará diretamente ligado ao
ambiente que seus quadros políticos criarão para a reflexão e avaliação dos processos
anteriores. Esperamos que o debate interno e a seleção de ideias que possam definir
os novos rumos do partido.
Logo, cuidar desse ambiente de
transição é vital ao principal partido de esquerda da América Latina. Esse
ambiente deverá estar aberto à apreciação de novas ideias e garantir as
manifestações dos diversos setoriais que se organizam vinculados ao partido. Deverá,
ainda, respeitar as premissas da liberdade, igualdade e organização para que se
torne um espaço de concepção com real amplitude. Será o
momento sagrado de reafirmar os anseios e bandeiras consagradas pela militância
petista mais tradicional e que agregue as inovações conceituais e de práxis,
sugeridas pelos mais jovens.
Institucionalmente, o PT se organizou
a partir do convívio direto com as bases populares. Teve papel fundamental na
criação e expansão de um campo democrático que mais tarde viria a ser tornar
hegemônico, sem perder a sua pluralidade. Em pouco mais de três décadas vimos a
história de um partido que constituiu protagonista da construção dos principais
processos de inclusão social da história do país. Podemos acentuar a
importância deste processo como sendo de vida ou morte de um partido que teve
nas últimas décadas a função de estimular a participação da população excluída
no processo de construção das políticas públicas.
O ponto transição do PT nos instiga a pensar
também na melhoria do uso das novas tecnologias e ferramentas de comunicação,
pois, enquanto cuidou da função governar o partido deixou os cuidados com sua
própria organização aquém de suas necessidades. Seus quadros terão, mais uma
vez, que se posicionar diante desse enorme desafio de buscar entre o
tradicional e o novo um ponto de coesão que una o partido em torno de um novo
projeto organizacional e político.
Na vivência partidária, como em muitos
outros segmentos, a identificação e compreensão dos erros devem ser o ponto de
partida para combatê-los. Geralmente os
erros são resultados de processos. Portanto é necessário descobrir quais os
processos falhos deram margem ao surgimento dos erros cometidos. Logo, a reconstrução do PT implicará na
avaliação de processos internos visando à eliminação ou correção dos mesmos. Para
dar conta dessa tarefa terá que utilizar outros espaços, além de seus auditórios
e salas de reuniões. E uma das principais tarefas será a avaliação do processo
para escolha de seus quadros dirigentes, o PED, que não vem produzindo bons
resultados. Deverá pensar também num formato mais horizontalizado para a sua
vivência interna, já que sua estrutura verticalizada se distanciou das práticas
mais libertárias, democráticas e progressistas de tomada de decisão.
Além de decidir sobre o seu próprio
reordenamento, organizacional e político; ainda que sejam imprescindíveis ao
processo sua autocrítica e sua reorganização; o PT precisará estudar
profundamente a conjuntura de transição que envolve o país e o mundo. Seu
processo interno de mudança deve ter como norte a confluência de grupos e ideias
diferentes que contribuam para a formação de um projeto sólido o bastante para
se manter num ambiente novo, desconhecido e desafiador ainda sem sua definição
final, tanto no Brasil como no mundo.
A classe política brasileira se
precipitou ao reivindicar o Impeachment da presidente Dilma Housseff apenas
pelo argumento da incompetência e da convicção do que se achava ser o melhor
para o país. Feriu-se gravemente a nossa democracia. Tal golpe não foi contra o
PT e sim contra o maior país da América Latina e seu povo. Somos o único país
que apresentou ao mundo um modelo de desenvolvimento de crescimento econômico,
com inclusão social e distribuição de renda. É inaceitável a partilha das nossas riquezas
minerais com as nações mais desenvolvidas e a instauração de forma arbitrária
do modelo de Estado Mínimo no Brasil; em detrimento ao bem estar social do povo
brasileiro.
Por fim, o PT não pode abrir mão desse
legado. Foi durante os governos petistas que o Brasil foi retirado do mapa da
fome e que a geração de empregos bateu todos recordes do continente Sul
Americano. Fechamos 2014 com a menor taxa de desemprego já registrada na
história do país. Na média do ano, ficaram sem trabalho apenas 4,8% dos
brasileiros. Basta estudar a economia do planeta no mesmo período para se
perceber o grande feito realizado pelo governo brasileiro nas gestões do PT. Sua
principal tarefa atual é reorganizar a própria casa e se renovar para o enorme
enfrentamento que está posto.
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