quinta-feira, 29 de maio de 2014

 

 



Juventude Não Transviada e Felicidade Padrão.

 

A juventude sempre carregou a tocha da mudança em suas mãos, escolhendo queimar o que não lhe serve mais e deixar acesa a chama do que de fato é importante.

No Rio, Capital Cultural do Brasil, cidade de renome internacional, a maior parte da juventude pobre, moradora de favelas e subúrbio, vivem no que chamamos de geração dos nem, nem. Nem estuda, nem trabalha. Enquanto não ouvirmos os jovens das periferias (favelas da zona norte / sul e subúrbio) estaremos criando estatísticas privativas, cíclicas e excludentes. Isso configura que os jovens não tem mais interesse nos antigos e desatualizados modelos educacionais e trabalhistas.

Precisamos repensar e ouvi-los; a juventude sabe o que se configura melhor para o seu espaço de vivencia e sua geração. Eles que podem informar demandas para avançarmos em um debate democrático do melhor para cada território.  

A exclusão do jovem morador de favela se dá, quando ele não se reconhecendo mais, faz criticas a própria vivência. Preferindo ser de outro lugar. Bombardeados pelos meios de comunicação tradicionais (novelas e jornais sensacionalistas), acabam por procurar a felicidade e identidade em outros espaços, esquecendo-se do "eu" no território de onde nasceu. No meio do caminho esse jovem pode perder a autoestima e a "fé", por não se encontrar em nenhum espaço.        

O primeiro ponto para qualquer projeto de política publica e social com jovens, é fazer com que eles se reconheçam dentro daquilo que fazem em seu Território; recuperar sua autoestima e identidade, o "eu" interior através do auto reconhecimento onde vive. Não tem problema apropriar-se das identidades de outros lugares, o problema é dentro dessa apropriação não existir diálogo entre a essência do individuo.

O que lhe  faz ser completamente diferente do resto do mundo? Onde está a nossa Juventude Transviada?

A individualidade de identidade é o que precisamos trazer de volta em alguns jovens. Cansados estes, de tentar reproduzir modelos padronizados no qual não se adéquam, acabam por desistir das suas vidas, podendo assim viver a margem do padrão de "felicidade" a eles oferecido.

Padrão este, imposto por uma sociedade excludente na qual se valoriza mais o que ganha, onde mora (zona sul asfalto) e sua família (pai, mãe e filho). Se não conquistou isso, estará de fora do padrão, logo não pode ser "feliz".
Para muitos a única maneira de ser feliz é esta, não existe outro meio!

Cada ser humano é diferente, cada ser humano tem suas duvidas e convicções.
O jovem do Leblon (asfalto) é diferente do complexo do alemão, não existindo uma identidade comparativa, apenas identidades diferentes.  Cada pessoa carrega signos e marcas que adquiriu ao longo da vida, isto te faz ser único.

Porém o que vai para a grande mídia (através de novelas) é a realidade dos jovens da zona sul (asfalto), quando falam de favela, é sempre de maneira higienizada esteticamente, tudo é lindo, os personagens não tem anseios (fora o de ser rico e famoso), só ficam se bronzeando na laje, estudam e frequentam festas junto com os personagens mais ricos da trama. Podemos até falar em bolsas de estudo ou Prouni, mas estes personagens favelados nunca lutam por uma favela melhor? claro ela é linda, não existe problemas de saneamento básico ou não existe nenhum tipo de opressão (policial ou por parte dos traficante). Os personagens só pensam em ficar ricos e saírem da favela.

Sendo assim quem mora em favelas como Chapadão, Complexo da Pedreira, Acari, complexo do alemão, maré, entre outras, não se encontra dentro dessa realidade, do ser "feliz". Seu Território é diariamente bombardeado por matérias negativas.

In"feliz"mente para a grande mídia o reconhecimento de felicidade carioca é excludente. Um padrão de praia e classe média. A criança que nasce fora dessa realidade, pode passar a vida buscando isto como padrão de vida a seguir. A maioria das noticias referentes a favelas fora da zona sul são: tragédias, tráfico e violência. Poucas vezes vemos e ouvimos falar coisas positivas, como: na favela existe muito mais trabalhadores que trafico e violência (isso todos sabem, ou acho que sabem, mas não é dito). Também é raro o reconhecimento dos artistas e dos atletas oriundos das favelas.

Não se reconhecem em nenhum programa de TV. O único que chega perto hoje em dia seria o esquenta da Regina Casé, que tem uma temática mais povão, mas que mesmo assim pode ser maquiada para chegar a nova classe econômica em ascensão, a classe c.

Com essa referencia midiática distorcida, qualquer jovem que pensar em favelas como moradia, subjetivamente, fará seu link a coisas negativas. Ao invés de ficar e mudar aplica-se a política do deixar. Ir embora parece ser bem melhor do que buscar o padrão de felicidade em seu território.

Estamos diante de um circulo vicioso destruidor. O jovem que se faz "bem sucedido" socialmente (dentro do padrão midiático de felicidade) sai da favela, procurando a zona sul e o padrão que desde pequeno lhe foi bombardeado; Fazendo os menores que vivem em seu território seguir o mesmo exemplo quando se tornarem adultos.

Parte deles sonha em morar em outra favela, mas uma favela mais perto da praia, à zona sul do Centro do Rio, onde os jovens tem uma autoestima melhor, pois estão mais perto da praia e do convívio de pessoas com este "padrão" de felicidade.  Mas esses Territórios também estão ameaçados pela especulação imobiliária, que gera uma remoção lenta, porém contínua, das famílias pobres para dar lugar à recente imigração de estrangeiros e de integrantes da classe c alta, que está comprando tudo que ali vê a sua frente.

Embora seja um recorte sobre o que vivemos na Capital, essa reflexão pode ser perfeitamente estendida para as diversas regiões do Estado do Rio de Janeiro




( Felipe Milhouse - Secult PT/RJ – maio de 2014)

Nenhum comentário:

Postar um comentário