quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Viva os 100 Anos do Samba!


Pelo Telefone
Donga e Mauro de Almeida
1916


Nessa semana conversei com pessoas que estavam convencidas de que o samba está fazendo exatos 100 anos.  Tive que explicar para elas que as manchetes dos jornais se referiam aos 100 anos da gravação de Pelo Telefone.  27 de novembro é realmente uma data muito importante para nossa cultura. Além de se comemorar a primeira gravação de um samba com grande repercussão na sociedade, vale aproveitar a ocasião para se falar sobre a mais importante expressão da música brasileira, o samba.

Como manifestação cultural, o samba tem suas raízes nos batuque e danças ligados a variados ritmos africanos, a partir do século 19. Com a introdução dos instrumentos de corda ele ganha mais força e passa a se popularizar como gênero musical.  Nestas comemorações dos 100 anos do samba não podem faltar às homenagens aos compositores Ernesto dos Santos (o Donga) e Mauro de Almeida, autores de Pelo Telefone, que foi gravado em novembro de 1916 e fez sucesso no Carnaval de 1917.

O samba atravessou o tempo lidando com inúmeras transformações estéticas.  Influenciou e foi influenciado, mas nunca perdeu o seu lugar na centralidade da cultura brasileira. Por conta de diferenças no jeito de ser cantado e tocado; de tema e formato da letra; de andamento, acordes e arranjos; surgiram algumas denominações variadas para o samba, dentre as mais tradicionais temos samba canção, samba de roda, samba enredo, bossa nova,     samba exaltação, samba de terreiro, o samba de breque, partido alto e pagode, que caracterizam diferentes estilos de samba.   

Mas como o samba nunca parou de se reinventar e de interagir com outros gêneros musicais é muito comum também encontrarmos junções como, samba choro, samba jazz, samba bolero, samba rock, forrogode, sambaião, samba soul, samba reggae, samba funk, dentre outros que hoje conhecemos e outras que certamente irão surgir.

Lindo por ser plural e forte por natureza, o samba também se globalizou. Fala de tudo e para todo o planeta, sem perder aquele charme ao lidar com temas que vêm direto do cotidiano e do coração do povo brasileiro, como paixão, amor, dor, prazer, saudade, traição, vingança, felicidade, solidão, injustiça, ironia, desigualdade social, tristeza, alegria, encontros, partidas e muitos outros.

A história de Pelo Telefone é cheia de controvérsias, desde autoria, data de criação, letra (as) original (ais) e até os dias de hoje os pesquisadores brigam entre si, em torno desses detalhes. Há notícias de outros sambas gravados antes de 1916, mas há quem diga que “com registro, selo e tudo mais" foi mesmo o Pelo Telefone”. Por isso é considerada uma de nossas músicas mais discutida e polemizada.

Mas o que não deixou nenhuma dúvida para os historiadores foi o seu enorme sucesso no Carnaval de 1917, que guarda um fato inédito para época: todos os clubes carnavalescos entraram na Avenida Central tocando Pelo Telefone. Foi a primeira vez na história que todos os blocos tocaram a mesma música em seus desfiles.   

Viva os 100 anos do samba! Viva os compositores de Pelo Telefone, Donga e Mauro de
Almeida!

(por Álvaro Maciel – Rio, 30/11/2016)



Donga
Ernesto Joaquim Maria dos Santos, conhecido como Donga, nasceu no dia 5 de abril de 1890 no Rio de Janeiro, e nos deixou no 25 de agosto de 1974. Foi músico, compositor e violonista.  Participava das rodas de música na casa da lendária Tia Ciata, ao lado de João da Baiana, Pixinguinha e outros.   



Mauro de Almeida 
Como compositor, entrou para a história da música popular brasileira por ter escrito em coautoria com Donga a letra de "Pelo Telefone". Compôs com Pixinguinha e Donga o samba "O Malhador", que, assim como a canção anterior, também foi interpretado por Baiano,  gravado na Casa Edison e lançado através do selo Odeon Records. Começou a carreira de jornalista na redação de A Folha do Dia, do Rio de Janeiro, como repórter policial e cronista carnavalesco.



Baiano
 Baiano é o nome artístico de Manuel Pedro dos Santos, nascido em  Santo Amaro da Purificação,  em 5 de dezembro de 1870  e morreu  no Rio de Janeiro, 15 de julho de 1944).  O cantor foi   reconhecido pelo seu pioneirismo dentre as gravações fonográficas na Casa Edison, uma das primeiras gravadoras existentes no Brasil e sediada na então capital federal.



 
Tia Ciata 
Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata (Santo Amaro da Purificação, 1854 — Rio de Janeiro, 1924) foi uma cozinheira e mãe de santo brasileira, considerada por muitos como uma das figuras influentes para o surgimento do samba carioca.


Pixinguinha, João da Baiana e Donga



Maria das Dores Santos, a Vó Maria
Natural de Mendes, interior do estado do Rio, foi a última mulher de Donga, com quem viveu por 15 anos. Na casa dos dois era comum a visita de  Pixinguinha, João da Baiana, Martinho da Vila, Ney Lopes, Geraldo Babão, Clara Nunes e não faltavam as rodas de samba, com direito a feijoada e acarajés. Nos deixou no ano passado, com seus 104 anos. 


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