Pelo Telefone
Donga e Mauro de Almeida
1916
1916
Nessa semana
conversei com pessoas que estavam convencidas de que o samba está fazendo
exatos 100 anos. Tive que explicar para
elas que as manchetes dos jornais se referiam aos 100 anos da gravação de Pelo
Telefone. 27 de novembro é realmente uma
data muito importante para nossa cultura. Além de se comemorar a primeira gravação
de um samba com grande repercussão na sociedade, vale aproveitar a ocasião para
se falar sobre a mais importante expressão da música brasileira, o samba.
Como
manifestação cultural, o samba tem suas raízes nos batuque e danças ligados a variados
ritmos africanos, a partir do século 19. Com a introdução dos instrumentos de
corda ele ganha mais força e passa a se popularizar como gênero musical. Nestas comemorações dos 100 anos do samba não
podem faltar às homenagens aos compositores Ernesto dos Santos (o Donga) e
Mauro de Almeida, autores de Pelo Telefone, que foi gravado em novembro de 1916
e fez sucesso no Carnaval de 1917.
O samba atravessou
o tempo lidando com inúmeras transformações estéticas. Influenciou e foi influenciado, mas nunca
perdeu o seu lugar na centralidade da cultura brasileira. Por conta de diferenças
no jeito de ser cantado e tocado; de tema e formato da letra; de andamento,
acordes e arranjos; surgiram algumas denominações variadas para o samba, dentre
as mais tradicionais temos samba canção, samba de roda, samba enredo, bossa nova, samba
exaltação, samba de terreiro, o samba de breque, partido alto e pagode, que
caracterizam diferentes estilos de samba.
Mas como o
samba nunca parou de se reinventar e de interagir com outros gêneros musicais é
muito comum também encontrarmos junções como, samba choro, samba jazz, samba
bolero, samba rock, forrogode, sambaião, samba soul, samba reggae, samba funk,
dentre outros que hoje conhecemos e outras que certamente irão surgir.
Lindo por ser
plural e forte por natureza, o samba também se globalizou. Fala de tudo e para
todo o planeta, sem perder aquele charme ao lidar com temas que vêm direto do
cotidiano e do coração do povo brasileiro, como paixão, amor, dor, prazer,
saudade, traição, vingança, felicidade, solidão, injustiça, ironia,
desigualdade social, tristeza, alegria, encontros, partidas e muitos outros.
A história de
Pelo Telefone é cheia de controvérsias, desde autoria, data de criação, letra
(as) original (ais) e até os dias de hoje os pesquisadores brigam entre si, em
torno desses detalhes. Há notícias de outros sambas gravados antes de 1916, mas
há quem diga que “com registro, selo e tudo mais" foi mesmo o Pelo Telefone”.
Por isso é considerada uma de nossas músicas mais discutida e polemizada.
Mas o que não
deixou nenhuma dúvida para os historiadores foi o seu enorme sucesso no Carnaval
de 1917, que guarda um fato inédito para época: todos os clubes carnavalescos entraram
na Avenida Central tocando Pelo Telefone. Foi a primeira vez na história que
todos os blocos tocaram a mesma música em seus desfiles.
Viva os 100
anos do samba! Viva os compositores de Pelo Telefone, Donga e Mauro de
Almeida!
(por Álvaro Maciel – Rio,
30/11/2016)
Donga
Ernesto Joaquim Maria dos Santos,
conhecido como Donga, nasceu no dia 5 de abril de 1890 no Rio de Janeiro, e nos
deixou no 25 de agosto de 1974. Foi músico, compositor e violonista. Participava das rodas de música na casa da
lendária Tia Ciata, ao lado de João da Baiana, Pixinguinha e outros.
Mauro de Almeida
Como compositor, entrou para a
história da música popular brasileira por ter escrito em coautoria com Donga a
letra de "Pelo Telefone". Compôs com Pixinguinha e Donga o samba
"O Malhador", que, assim como a canção anterior, também foi
interpretado por Baiano, gravado na Casa
Edison e lançado através do selo Odeon Records. Começou a carreira de
jornalista na redação de A Folha do Dia, do Rio de Janeiro, como repórter policial
e cronista carnavalesco.
Baiano
Baiano é o nome artístico de
Manuel Pedro dos Santos, nascido em Santo
Amaro da Purificação, em 5 de dezembro
de 1870 e morreu no Rio de Janeiro, 15 de julho de 1944). O cantor foi
reconhecido pelo seu pioneirismo
dentre as gravações fonográficas na Casa Edison, uma das primeiras gravadoras
existentes no Brasil e sediada na então capital federal.
Tia Ciata
Hilária Batista de Almeida,
conhecida como Tia Ciata (Santo Amaro da Purificação, 1854 — Rio de Janeiro,
1924) foi uma cozinheira e mãe de santo brasileira, considerada por muitos como
uma das figuras influentes para o surgimento do samba carioca.
Pixinguinha, João da Baiana e Donga
Maria das Dores Santos, a Vó Maria
Natural de Mendes, interior do estado do Rio, foi a última mulher de Donga, com quem viveu por 15 anos. Na casa dos dois era comum a visita de Pixinguinha, João da Baiana, Martinho da Vila, Ney Lopes, Geraldo Babão, Clara Nunes e não faltavam as rodas de samba, com direito a feijoada e acarajés. Nos deixou no ano passado, com seus 104 anos.
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