Por Álvaro Maciel
O
que o povo brasileiro tanto esperava aconteceu, o ex-deputado e ex-presidente
da Câmara Federal, Eduardo Cunha, foi condenado no dia 30/03/2017 a 15 anos e
quatro meses de reclusão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de
divisas.
A
Condenação de Cunha comprovou judicialmente que Dilma foi perseguida e golpeada
por um forte esquema corrupto, através de uma trama espetacular, cujo
desdobramento foi semelhante a capítulos de novela, com textos e argumentos
ridículos. Um episódio que apunhalou a democracia brasileira.
Cunha,
como presidente da Câmara, atuou como “chefe todo poderoso” de uma quadrilha
que se uniu para instaurar a insegurança política que até hoje permeia o país.
Suas obstruções às pautas do governo e o uso intermitente das pautas bombas,
serviram para tumultuar e inviabilizar a gestão da presidenta Dilma Rousseff.
Assumiu, portanto, o papel central para
o enfraquecimento de um governo legítimo e democrático. Conduziu a operação
ardilosa e criminosa para criar o clima favorável ao golpe, concluído em 2016,
após a condenação e afastamento definitivo de Dilma de suas funções
presidenciais.
Cunha
não agiu sozinho, ao contrário, criou uma rede de influência no âmbito do
Congresso Nacional, que envolveu e envolve não sós os deputados e senadores,
mas representantes dos diversos segmentos empresarial e financeiro, cujos nomes
ainda não foram totalmente revelados para a sociedade.
O
golpe parlamentar que derrubou Dilma teve como principal motivação o seu
sentimento de vingança, diversas vezes por ele externado. A aceitação do pedido
de Impeachment foi uma cruel contrapartida reativa à investigação aberta contra
ele. Um revanchismo esdrúxulo.
Com
o tempo e os fatos o povo brasileiro passou a entender melhor o que representou
aquele processo de golpe contra a democracia brasileira. Hoje o Brasil vive o
amargo sofrimento de seu povo, um duro resultado da substituição abrupta de
Dilma Housseff por Michel Temer.
Temer
se aliou e se alinhou ao PSDB quando aceitou do partido a missão de fazer
avançar uma ambiciosa agenda de reformas neoliberais. Essa é a mais evidente e
também a pior marca do seu governo. A aliança PMDB/PSDB, que conta com os
partidos menores que orbitam em seu entorno, criou uma força conservadora no
Congresso, tão avassaladora, que pode aprovar com extrema facilidade as
propostas reformistas encaminhadas pelo Executivo ou de inciativa dos próprios
parlamentares.
Nunca
se viu tanta celeridade na tramitação e aprovação de propostas como a PEC da
Morte. Havia, naquele momento, muita dúvida no Congresso e muita pressão
popular contrária à PEC e, mesmo assim, o governo conseguiu uma vitória folgada
e sem nenhuma emenda. Essa coesão do Legislativo com o Executivo, com perfil
reacionário, é de fato assustadora e perniciosa. Jamais devemos esquecer que
essa coalizão neoliberal poderosa foi implantada a partir da atuação de Eduardo
Cunha à frente da Câmara e se manteve após a eleição de Rodrigo Maia.
Após
a aprovação da PEC do Fim do Mundo muita gente que achava que não era golpe
passou a entender a gravidade da dura realidade instaurada no Brasil. Com o
passar do tempo até os “coxinhas” recuaram. Mesmo as pessoas que não gostam de
política ou, simplesmente, evitam discutir assuntos relacionados ao Planalto,
passaram a entender a importância estratégica que têm os cargos de presidente
da Câmara e presidente do Senado. Aos poucos ficou evidente para o povo
brasileiro que as duas Casas participaram do golpe parlamentar que arruinou o
país.
Não
se sabe ainda o que há por trás dessa grande composição de forças políticas de
direita, organizada para sustentar a agenda neoliberal, sob o comando de o
presidente Michel Temer nem que acordo fora firmado. Também não sabemos quem
são, exatamente, dos envolvidos. Todavia, pode-se concluir que a classe
trabalhadora é a que mais está perdendo e sofrendo.
A
operação Lava Jato, cujo objetivo é o combate à corrupção, blindou o PSDB e,
ainda por cima, revelou um efeito colateral caro demais à economia do país. Ela
mergulhou o país numa grande instabilidade política e econômica, que por sua
vez abre um enorme espaço para se efetivar no país uma agenda para o avanço do
projeto neoliberal. Logo, temos aí algumas pulgas atrás da orelha do povo.
Vivemos um mar de dúvidas e incertezas.
A
condenação de Eduardo Cunha trouxe novamente à tona a discussão sobre o
processo de impeachment contra a presidenta Dilma, já que ficou comprovada na
Justiça sua participação em diversos crimes e que usava o cargo de presidente
da Câmara para tentar se livrar das investigações. Essa é apenas a primeira
condenação. Ela abre caminho para outras e enfraquece ainda mais o presidente
Temer, pois, aumenta a instabilidade política no Planalto e realça as muitas
dúvidas sobre sua ascensão à Presidência da República. O risco de Cunha não
chegar ao final de seu mandato cresce gradativamente.
Michel
Temer pode estar prestes a cair? Temos elementos para responder que sim.
Primeiro por que sempre teve sua legitimidade contestada. Segundo por que
parece estar muito próximo de acontecer uma fusão tácita entre os movimentos
sociais, que seria a junção dos movimentos que apoiam o combate à corrupção com
os movimentos dos que lutam pela manutenção dos direitos trabalhistas,
previdenciários e sociais. Uma fórmula fatal ao governo Temer. Em terceiro
estão os efeitos da delação premiada de Cunha, que poderão atingir em cheio
Michel Temer e diversos Ministros de seu governo. Provavelmente, Temer cairá
antes de dezembro de 2017.
Publicado por Revista Fórum, em
07/04/2017.
Nenhum comentário:
Postar um comentário