Foto de Francisco Moreira da Costa
Em primeiro
lugar tenho quero pedir licença aos mais velhos para falar sobre uma pessoa tão
importante para o Candomblé, cuja morte abalou abateu o país. Mãe
Beata de Iemanjá nasceu na cidade de Cachoeira do Paraguaçu, no Recôncavo
Baiano e veio para Rio em 1960. Em 1985 fundou seu terreiro em Nova Iguaçu, que
mais tarde passaria a ser uma referência para o debate e a prática da cultura
afro-brasileira.
Mulher forte
se adaptou à Baixada Fluminense no Rio de Janeiro, lugar onde se firmou como
uma das principais lideranças da religião, sem, no entanto deixar de declarar
seu orgulho de ser baiana nem de fazer referências às suas origens: “sou
Beatriz Moreira Costa, Mãe Beata, mulher negra nascida no Recôncavo baiano, às
margens do rio Cachoeira do Paraguaçu”.
É importante lembrar que seu terreiro Ilê Omi Oju Aro, no bairro Miguel Couto, virou
patrimônio cultural e entrou para o mapa da cultura do estado do Rio de Janeiro. Seu
trabalho social abrangia muitos bairros da região. O terreiro era frequentado
por pessoas das mais simples até políticos, artistas e intelectuais de renome. Além
do culto religioso Mãe Beata realizava muitas festas e encontros culturais, todos abertas à comunidade.
Em 2014 quando Marina Silva, então candidata à presidência da República,
se referiu ao Candoblé como seita. Mãe Beata a rebateu publicamente em carta
onde explicou a grandeza de sua religião. O documento foi publicado em diversos
jornais do país. Conforme os trechos do documento, que seguem:
“... nós não cultuamos satanás. Cultuamos
Olorum, Obatalá, Ododuá e Exú, que é o grande dinamizador. Cultuamos os
inquices e os vodunces que são deuses como Dafé e Jeová. Cultuamos deuses de
energia da natureza que é a coisa mais suprema que pode existir. Por que somos
natureza, filhos da natureza. Ao qual a Senhora terá um grande compromisso de
preservar essa natureza que pede socorro, pelo descaso de pessoas
inconsequentes...”.
“Eu me julgo uma mãe do mundo por que sou de
Iemanjá, Orixá que dos seus seios brota a água suprema, que é o leite que
amamenta aqueles que a sociedade repudia a exemplo dos gays e das lésbicas. Eu
sei chorar com olhos do meu irmão e abraçar esses.”
Foi
pela página de Adailton Moreira, seu filho, que ficamos sabendo da triste
notícia de sua morte: “É com imenso pesar que comunico o falecimento de minha
mãe biológica Mãe Beata de Iyemonjá. Olorun a receba com glória. Posteriormente
informo maiores detalhes”.
Amada
por uma imensidão de seguidores, Mãe Beata possuía uma consciência política e
intelectual que muito influenciava o meio sociocultural fluminense e brasileiro.
Sua morte abateu demais o país que ela tanto amava. Ela deixa na terra ensinamentos de igualdade, liberdade e
respeito, que devemos propagar. Suas mensagens são de ternura e muita
profundidade. Uma defensora mor dos Direitos Humanos, que tinha no combate à
intolerância religiosa sua bandeira
constante e a partir da qual ela discutia temas ligados à diversidade como um
todo.
Registramos assim o nosso respeito e admiração a essa linda pessoa que nos deixa neste dia. Que sua luz continue a nos iluminar, agora como uma estrela no firmamento.
Coletivo Estadual de Cultura do PT-RJ