Por Almir Aguiar
O Brasil viveu durante mais de uma década, a partir
da eleição de um operário, em 2002, não só um período de desenvolvimento
econômico em todos os setores da economia, como também de avanços importantes
no campo social. Os brasileiros retomaram a esperança roubada pela ditadura
militar. O projeto dos trabalhadores trouxe melhorias consideráveis para a
população negra, maioria absoluta que ainda se encontra na base de uma das mais
desiguais pirâmides sociais do mundo. Esta inclusão, longe de representar a igualdade
de oportunidades por nós sonhada, promoveu avanços na qualidade de vida das
pessoas que vivem nas regiões mais pobres do Brasil.
Utopia roubada
Programas de distribuição de renda, ganhos reais do
salário mínimo, acesso às universidades através da política de cotas ou de
fundos de financiamento do ensino, ampliação das vagas na educação infantil e
escolas técnicas, foram algumas das medidas que desenharam, pela primeira vez
na história de nosso país, um cenário que representou os primeiros passos para
o resgate da utopia popular, de vivermos numa sociedade justa e de contínuo
combate ao preconceito racial e a toda a forma de discriminação. Entretanto,
este processo histórico foi rompido por um golpe de estado.
Derrubado o governo
democrático de Dilma Rousseff, os golpistas começaram, com uma pressa sem
precedentes, e sem debater com a sociedade, a impor um projeto de
desarticulação das políticas afirmativas, da retirada de direitos dos
trabalhadores e da implementação de uma proposta econômica de subserviência ao
grande capital e aos interesses de mercado, aumentando a concentração de renda,
a desigualdade, o desemprego, a miséria e a injustiça social. Este projeto
pratica os maiores ataques aos direitos trabalhistas de toda a história e afeta
ainda mais negros e mestiços, que já sofrem historicamente com a imensa dívida
social brasileira e o racismo de nosso processo civilizatório.
Retrocesso social
Negros e negras, ainda excluídos em favelas e
periferias ou nas ruas das grandes cidades, voltam a ter suas esperanças
castradas por uma elite racista e desumana. O governo Temer desmonta toda a
estrutura da legislação trabalhista garantida pela CLT, pela Justiça do
Trabalho e pela estrutura sindical e impõe uma política uma agenda neoliberal para
aprofundar a miséria e as desigualdades.
Se antes, a população negra, livre da escravidão
literal a partir da assinatura da Lei Áurea, em 1888, mas mantida inteiramente
à margem da sociedade, já não tinha muito o que comemorar, que dirá agora,
diante de tamanho retrocesso social. As oligarquias brancas, racistas, chegam
ao ponto de apresentar, no Congresso Nacional, um projeto que substitui o
salário por acesso à alimentação e moradia. Se o projeto das elites derrotar a
reação popular, vamos retroceder às relações sociais e de trabalho do século
XIX. Não é exagero afirmar que, além da simbologia, o retrocesso reafirma a
figura do senhor da casa grande e do escravo da senzala. É o triunfo da visão
etnocêntrica do colonizador, que vê o Brasil com o olhar de fora para dentro,
de desprezo absoluto p elo Brasil e por seu povo.
A saída está no povo
Como nas revoltas dos negros que garantiram o fim da
escravatura, novamente o povo brasileiro se vê diante de mais um desafio
histórico, onde ele, negro e pobre, precisa ser o protagonista e sujeito
histórico para derrubar este governo e este projeto que espolia todos os
trabalhadores brasileiros. Precisamos, trabalhadores negros e brancos, lutar
para derrotar este projeto racista e perverso, que torna o país ainda mais
injusto e desigual, envergonhando o Brasil diante de uma opinião pública
internacional perplexa e apreensiva com a nação que tem tudo, mas não consegue
realizar a emancipação de sua gente. A solução, a saída para nossos impasses
está mais uma vez, não nas elites, que patrocinam o projeto do governo Temer,
mas no povo brasileiro, que precisa retomar as rédeas do processo histórico e
social em busca da igualdade de oportunidades e da justiça social.
“Vamos abolir a discriminação e promover a inclusão
por mais contratação de negros e negras nos bancos”
*Almir Aguiar é o Secretário de Combate ao Racismo da
Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro - CONTRAF-CUT
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